SÃO PAULO (Reuters) – O dólar começou a semana perto da estabilidade, com o real incapaz de se beneficiar do ambiente externo mais positivo, o que no fim deixou a moeda norte-americana longe das mínimas da sessão e fez sobressaírem temas idiossincráticos do Brasil.
O dólar à vista teve variação negativa de 0,05%, a 5,3823 reais na venda nesta segunda-feira. A moeda tocou a mínima do dia (de 5,345 reais, queda de 0,74%) ainda na primeira parte do pregão, mas se recuperou para bater a máxima intradiária de 5,4023 reais (+0,32%) por volta do meio-dia e meia.
À tarde as vendas reapareceram, mas sem a intensidade de mais cedo.
O movimento do dólar aqui foi bem mais contido do que no exterior, onde a moeda caía 0,5% frente a uma cesta de pares –o que seria a maior queda diária desde o começo de maio.
Dados fracos nos EUA e a notícia de que a China zerou o número de casos de Covid-19 no país por transmissão comunitária deram impulso a ativos de risco, com destaque para moedas pares do real, commodities (+2,4%) e as bolsas de valores dos EUA, em que o índice de tecnologia Nasdaq Composite cravou novo recorde [.NPT].
De forma geral, o grande ponto de atenção do mercado nesta semana está no fim dela, quando começa o simpósio anual de Jackson Hole, nos EUA, evento promovido pelo banco central norte-americano (Fed) que na sexta-feira contará com discurso do líder da instituição, Jerome Powell. Há expectativa de que Powell emita algum sinal sobre o futuro dos estímulos monetários adotados pelo Fed durante a pandemia.
Nesse contexto, Kit Juckes, estrategista macro do Société Générale, segue vendo o dólar fortalecido. “Há pouca ou nenhuma chance de recuperação do sentimento em relação aos mercados emergentes até que o tema Covid enfraqueça”, disse em relatório.
E é com esse pano de fundo externo mais delicado para emergentes que o real segue afligido por problemas domésticos que vão desde política ao clima, passando pelas contas públicas. Segundo operadores, a segunda-feira foi de nova sensação de desconforto nos mercados após um noticiário de fim de semana que deu poucas indicações de que o foco do governo se voltará no curto prazo para a agenda macro e de reformas.
Mais uma vez os preços dos ativos domésticos operaram em sintonia. As taxas de juros futuros negociadas na B3 chegaram ao fim da tarde com saltos de 20 pontos-base, enquanto o Ibovespa caiu 0,49% (segundo dados preliminares), único índice acionário relevante do Ocidente a ficar no vermelho nesta sessão.
O sentimento negativo é captado pelos investidores estrangeiros.
Modelos do Morgan Stanley para alocação em moedas indicam que o sinal de venda para o real está próximo de recordes, com a divisa brasileira sendo a preferida para posições negativas. E pelos dados de uma agência dos EUA as apostas de especuladores na alta do real caíram ao menor valor em dois meses.
A Guide Investimentos notou que o ambiente institucional no Brasil segue “conturbado” após o presidente Jair Bolsonaro dar entrada em pedido de impeachment de um ministro do STF na sexta-feira.
Em paralelo a isso, o Banco Central vê barulho quanto ao efetivo apoio do Planalto à sua autonomia formal, sancionada em lei deste ano, mas não movimento ou pressão direta de Bolsonaro contra o status recém-adquirido, disseram duas fontes da autoridade monetária à Reuters, sob condição de anonimato.
Na sexta-feira, a agência de notícias Associated Press publicou que Bolsonaro havia confidenciado a interlocutores ter se arrependido da lei de autonomia, que assinou em fevereiro.
Nesta segunda, o ministro da Economia, Paulo Guedes, reconheceu impactos no mercado de uma antecipação do clima eleitoral, mas avaliou que os fundamentos econômicos do Brasil estão melhorando e que as instituições do país são sólidas. Guedes voltará a falar em evento a partir de 18h (de Brasília) nesta segunda-feira.
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