Com alívio na cotação do dólar, é hora de enviar dinheiro para fora e investir no exterior?

Em meio às preocupações em torno da política fiscal do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o interesse dos investidores por migrar de parte dos investimentos para fora do País se intensificou neste ano. E o alívio verificado na cotação do dólar nas últimas semanas tem feito muitos deles se perguntarem se agora é a hora de tirar o plano do papel.

No ano passado, aos trancos e barrancos, o real se fortaleceu perante o dólar, que caiu cerca de 5%, chegando a dezembro cotado perto dos R$ 5,30. Na máxima do ano, no entanto, chegou a se aproximar dos R$ 5,70 – enquanto a mínima foi aos R$ 4,60.

Em janeiro, a moeda americana caiu um pouco mais, encerrando o mês com uma desvalorização de mais 4%. Nesta terça-feira (7), começou o dia cotada a R$ 5,14.

Começar o movimento de dolarizar a carteira com o câmbio a esse nível parece uma oportunidade. Será de fato o melhor momento para remeter recursos para uma conta internacional e comprar ativos estrangeiros?

Para Rodrigo Sgavioli, o princípio da diversificação internacional é independente do timing do câmbio. O mais importante é verificar se o perfil do investidor, a composição da carteira e suas necessidades de liquidez e retorno demandam mais (ou menos) exposição ao mercado global.

“Se estruturalmente o investidor tem uma predisposição a ter uma parcela maior do patrimônio alocado em investimentos internacionais, sim, vale a pena aproveitar o momento”, orienta.

Isso quer dizer que, por conta da queda do dólar, o investidor deveria alocar mais lá fora do que o normal? “Não, pois não é adequado pensar no dólar como uma classe de ativos, e, sim, procurar exposição à moeda por meio de outros investimentos”, explica. “Há uma diferença entre comprar dólar e dolarizar os investimentos”.

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É como quem decide fazer uma viagem nas férias. “Se você já sabe o destino para onde vai, quantos dias vai durar o passeio, os hotéis em que pretende se hospedar e quem vai acompanhá-lo, pode esperar uma promoção aparecer para então comprar as passagens”, compara Sgavioli. Começar pelo último passo, só porque os bilhetes ficaram baratos, pode acabar saindo pior que o soneto.

Raphael Figueredo, sócio e analista da Eleven Financial, concorda que dolarizar uma parte da carteira, independentemente do nível do câmbio, vale a pena.

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“Atualmente, qualquer cotação abaixo de R$ 5 vira uma oportunidade de compra por uma questão técnica. Mas pensando na construção de patrimônio ao longo do tempo, vale fazer investimento no exterior com o câmbio a R$ 4 ou a R$ 6”, avalia. A razão é o nível de diversificação, geográfica e setorial, de ativos que é possível alcançar por meio de uma conta no exterior.

Janela favorável?

É claro que, se for possível expatriar recursos a uma taxa de câmbio atrativa, tanto melhor. A janela atual, na visão de Sgavioli, é favorável. “Muitas vezes, nesses momentos, os investidores remetem os recursos para exterior e os mantêm na conta por alguns dias até tomar a decisão de onde alocar”, diz.

Pode ser uma opção vantajosa em função da volatilidade da cotação da moeda americana. Embora tenha encostado nos R$ 5 na última quinta-feira (2), o dólar voltou a subir nos dias posteriores e acabou o pregão de segunda (6) cotado a R$ 5,17, com alta de 0,51%.

É um reflexo de fatores internos e externos. Não é de hoje que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem questionado a independência do Banco Central e o nível da taxa Selic, o que repetiu em seu discurso durante a posse de Aloizio Mercadante (PT) como presidente do BNDES nesta segunda.

Entre os agentes financeiros, a sensação é de que o governo pode querer baixar os juros “na canetada”, ignorando possíveis impactos sobre a inflação. “Qualquer economia desenvolvida e mercado maduro tem um banco central independente”, diz Anderson Meneses, CEO da Alkin Research.

Lá fora, por outro lado, um certo grau de otimismo instalado nos mercados nas últimas semanas amainou. A criação de empregos continua forte nos Estados Unidos, levando os investidores a acreditar que os juros terão de subir ainda mais para dar conta de controlar a inflação.

A dinâmica das taxas na maior economia do mundo pesa sobre o mercado brasileiro, com investidores cobrando prêmios maiores para investir no País, seja na renda fixa ou em ativos de risco. Isso faz minguar a entrada de dólares no Brasil, contribuindo com a desvalorização do real – e a consequente elevação do câmbio.

“O dólar visitou o patamar abaixo dos R$ 5, mas durou pouco. Apesar do diferencial de juros favorável, temos um ambiente político tenso, que ainda não conseguiu ancorar qual será o arcabouço fiscal do País. As curvas de juros permanecem com um nível de prêmio significativo, e o cambio é reflexo disso”, diz Figueredo.

Mas como a taxa de câmbio é apenas um dos componentes do rendimento de uma aplicação internacional, o analista reforça a necessidade de avaliar atentamente as perspectivas para os ativos almejados em si.

“Definitivamente, estamos vivendo um dos períodos de maior velocidade na elevação dos juros para combater a maior inflação dos últimos 40 anos nos países desenvolvidos”, lembra Figueredo. Se isso é uma má notícia para os ativos de renda variável, dado que eles costumam desvalorizar em épocas de restrição monetária, pode abrir oportunidades em outros terrenos.

O analista considera que o momento é favorável para investir em renda fixa no exterior, por exemplo. “Os Estados Unidos mantiveram juros negativos ou zerados por anos, e atualmente até alguns títulos do governo pagam 4% ao ano, em dólar”, diz. “São os títulos da maior economia do mundo, no ambiente teórico mais seguro do mundo. Se os EUA quebrarem, quebra o mundo”.

Atualmente, ele sugere aos investidores dolarizar uma parcela entre 15% e 30% da carteira.

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