Dólar sobe 15% no 1º semestre, com Lula, EUA, juros e fiscal no holofote do mercado

O dólar encerrou o primeiro semestre de 2024 em seu maior patamar desde 10 de janeiro de 2022. No último pregão de junho, a moeda chegou a R$ 5,58, com alta de 1,46% nesta sexta-feira (28), e de 6,46% só no mês. No ano, a alta chegou a 15,14%. Durante a sessão, a moeda chegou a R$ 5,60.

A escalada da moeda começou, de fato, em abril. Até então, o dólar mantinha certa estabilidade após iniciar o ano cotado a R$ 4,89. Mesmo atingindo o patamar dos R$ 5,00 em algumas sessões de fevereiro e março, desde abril a moeda apresentou altas sucessivas até o patamar atingido na sessão de hoje.

“Esse movimento é influenciado por fatores tanto internos quanto externos, incluindo preocupações com os juros nos Estados Unidos. Nas últimas semanas, Lula intensificou suas críticas a Campos Neto e reforçou sua política de gastos públicos, o que contribui para a pressão sobre o câmbio”, comenta Luiz Felipe Bazzo, CEO do transferbank.

Cenário doméstico

Dentre os fatores internos que impactaram a moeda na reta final deste mês, estão disputas entre o Presidente Lula e o Banco Central (em especial, na figura do presidente do BC, Roberto Campos Neto), além de questões fiscais. Hoje, para se somar aos pontos já presentes, houve a disputa pela formação da taxa Ptax de fim de mês.

“A taxa de câmbio calculada pelo Banco Central com base nas cotações do mercado à vista, a Ptax, serve de referência para a liquidação de contratos futuros. No fim de cada mês, agentes financeiros costumam tentar direcioná-la a níveis mais convenientes às suas posições, sejam elas compradas (no sentido de alta das cotações) ou vendidas em dólar (no sentido de baixa)”, explica Bazzo.

A disputa se tornou ainda mais importante, nesta sexta, já que a Ptax também era a do encerramento do trimestre, que serve de referência para balanços de empresas com operações internacionais.

Neste cenário, após atingir os 5,5861 reais, às 9h01, pouco depois da abertura, o dólar foi puxado pelos investidores comprados e se firmou rapidamente no território positivo – na contramão do exterior, onde a moeda norte-americana cedia ante as demais divisas de emergentes.

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Além da pressão dos comprados, o dólar foi novamente impulsionado pelo mal-estar em torno da situação fiscal e por novas declarações de Lula contra o Banco Central, com Campos Neto também voltando a passar recados ao governo.

Ao tratar do câmbio, o presidente cobrou providências do BC. “Por que o dólar está subindo? Porque tem especulação com derivativos na perspectiva de valorizar o dólar e desvalorizar o real. E o Banco Central tem a obrigação de investigar isso”, disse.

Durante toda essa semana, Lula tem reiterado o assunto e sustentou, na quinta, que “quem apostar no fortalecimento do dólar ante o real vai quebrar a cara“. Na semana anterior, a divisa já completava 5 semanas consecutivas em alta.

Valorização global

Lá fora, um dos principais gatilhos para a moeda tem sido os juros ainda elevados nos Estados Unidos, no intervalo de 5,25 – 5,50%. A expectativa é que haja apenas um corte em 2024 pelo Federal Open Market Committee (FOMC) do Federal Reserve (Fed). A probabilidade é que o corte aconteça na reunião de 18 de setembro, de acordo com a ferramenta FedWatch, do CME Group.

A alta global do dólar tem impactado de formas diferentes a política monetária de diversos países. A maioria dos bancos centrais da América Latina já começou a reduzir as taxas de juros, por exemplo.

Alguns estão em estágios iniciais, como México e Colômbia, ao passo que outros estão mais próximos de alcançar o nível terminal (Chile, Peru e Brasil). “Grande parte da desvalorização das moedas pode ser atribuída à força do dólar em meio a juros mais altas nos EUA”, destaca Nobre.

Já o Japão nomeou um novo diplomata cambial nesta sexta-feira depois que o iene atingiu o nível mais baixo em 38 anos em relação ao dólar, aumentando as expectativas de uma intervenção iminente no mercado por parte de Tóquio para sustentar a moeda.

(com Reuters)

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