Bloomberg — Os ativos brasileiros terminaram o ano atrás de todos os principais pares, com o real registrando sua maior queda desde o choque da pandemia em 2020, em meio ao ceticismo crescente sobre o compromisso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de resolver o crescente déficit orçamentário.
O real desvalorizou mais de 20% em relação ao dólar neste ano, o pior desempenho entre 31 moedas principais monitoradas pela Bloomberg, ao lado do peso rigidamente controlado da Argentina.
As perdas se intensificaram em novembro, após o pacote de contenção de gastos apresentado pelo governo decepcionar os investidores. Nem mesmo uma intervenção histórica do Banco Central — que gastou cerca de US$ 20 bilhões em reservas em duas semanas — conseguiu reverter a derrocada.
A autoridade monetária interveio novamente nesta segunda-feira (30), último pregão do ano para os ativos locais, vendendo cerca de US$ 1,8 bilhão no mercado à vista. A moeda reverteu perdas anteriores e encerrou o dia com alta de 0,2%, em um dia de baixa liquidez.
Apesar das recuperações pontuais com as intervenções do BC, a onda vendedora do real se espalhou para outros ativos.
Os spreads do CDS (credit default swaps, uma medida do risco-país) aumentaram mais do que em qualquer outro país do mundo em desenvolvimento, e os rendimentos dos títulos do governo subiram para o nível mais alto desde a destituição da ex-presidente Dilma Rousseff em 2016.
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Com o Banco Central sendo forçado a aumentar as taxas de juros para tentar conter os danos às expectativas de inflação, uma queda no mercado de ações apagou mais de US$ 290 bilhões em valor de mercado, fazendo com que o Ibovespa ficasse atrás de todos os principais índices de ações, exceto os da Letônia e do México, em dólar.
A variação dos preços “está nos dizendo que a liderança do Brasil provavelmente precisa lidar com as preocupações fiscais do mercado mais cedo ou mais tarde”, disse Simon Quijano-Evans, estrategista-chefe da Gramercy em Londres.
Lula lida um déficit orçamentário nominal que se expandiu para o equivalente a cerca de 10% do Produto Interno Bruto (PIB). Sua equipe econômica apresentou no mês passado uma série de medidas fiscais, mas também acrescentou isenções de impostos – lançando dúvidas sobre a disposição do governo de controlar os gastos públicos.
O déficit crescente – um tópico que tem alimentado a inquietação dos investidores da França à Colômbia – também chega em um momento difícil para os mercados emergentes.
As nações em desenvolvimento entrarão em 2025 enfrentando os problemas econômicos da China, as tensões geopolíticas persistentes e a incerteza sobre o impacto das políticas do presidente eleito dos EUA, Donald Trump, sobre o dólar e a trajetória das taxas de juros globais.
Embora a venda de dólares pelo Banco Central possa proporcionar algum alívio temporário para o real, os analistas ainda lutam para encontrar um piso para a moeda depois que ela se enfraqueceu e atingiu novas mínimas históricas.
A gestora de fortunas Oriz Partners vê “pouco espaço” para a valorização da moeda, e o Wells Fargo diz que ela pode chegar a R$ 7 por dólar americano até o primeiro trimestre de 2026 – uma queda de 13% em relação aos níveis atuais.
“As altas taxas de juros e as avaliações relativamente baratas do Brasil poderiam fornecer algum suporte, mas é difícil reverter o curso na ausência de maior confiança do mercado na sustentabilidade fiscal”, disse Dan Pan, economista do Standard Chartered Bank.
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