O anúncio de que o Fundo Monetário Internacional (FMI) chegou a um acordo em nível técnico com a Argentina para abrir uma linha de crédito estendida de 48 meses no valor total de US$ 20 bilhões deve trazer algum alívio instantâneo ao Banco Central do país, que tem sangrado as poucas reservas em dólar em busca de alguma estabilidade. Mas também deve trazer uma exigência de mudança na política cambial, com uma transição dos rígidos controles atuais (o “cepo”) para a modalidade das bandas cambiais, conforme reportagens da mídia local.
FMI e Argentina chegam a acordo de US$ 20 bilhões
O FMI disse que o acordo, que está sujeito à aprovação de seu conselho executivo, “se baseia no impressionante progresso inicial das autoridades na estabilização da economia”
Basicamente, esse sistema de bandas flutuantes define um espaço ou zona de não intervenção para o Banco Central. Ou seja, estabelece um piso e um teto para que a taxa de câmbio se mova de acordo com a oferta e a demanda do mercado. Dentro dessas cotações, a autoridade monetária não pode comprar ou vender moeda estrangeira. Esse modelo já foi estabelecido no Brasil na primeira fase Plano Real, entre 1994 e 1999.
Conforme os manuais de economia, dentro da banda, a taxa esperada de depreciação da moeda doméstica está negativamente relacionada com a taxa de câmbio. Quando a taxa de câmbio é alta e está na parte superior da banda, a moeda é fraca e não se pode depreciar mais. A taxa de câmbio permanece na parte superior ou caminha para o interior da banda e, assim, a taxa esperada de depreciação da moeda é negativa.
Analogamente, quando a taxa de câmbio está no limite inferior da banda e a moeda é forte, a taxa esperada de depreciação da moeda é positiva.
Para a Argentina, esse desarme parcial do “cepo” começará a normalizar o funcionamento da economia e dar ao setor produtivo mais certeza a respeito da disposição de dólares para girar no exterior. Mas, num primeiro momento, pode trazer dificuldades para os investimentos por conta do dólar mais caro durante a transição.
O BC argentino e a Comissão Nacional de Valores (correspondente à CVM brasileira) poderão acelerar sua política atual de abertura dos controles, retirando regulamentaçõe como restrições das empresas ao giro de dividendos ao exterior. Isso pode destravar um estoque estimado entre US$ 6 bilhões e US$ 10 bilhões.
A dúvida maior no país é qual o valor justo para o câmbio. A cotação oficial do BC está em 1.116 pesos por dólar, com o BC prosseguindo em ajuste de 1% mensal, no sistema chamado de “crawling peg”. Mas a cotação paralela mais usada no país, o “dólar blue” está em 1.360 pesos nas ruas de Buenos Aires. As cotações financeiras usadas pelas empresas e exportadoras (MEP e CCL) estão em 1.376 pesos e 1.368 pesos, respectivamente.
Na segunda-feira (7), o Relatório de Expectativas de Mercado (REM) – que corresponde ao Boletim Focus do Brasil – apontou uma expetativa de quase estabilidade no câmbio, obedecendo o sistema gradual de “crawling peg”, até as eleições parlamentares de outubro. Mas ao final do ano já havia uma previsão de cotação de 1.253 por dólar, o que significa um incremento de 7% sobre as projeções do REM de fevereiro, que estimava 1.157 pesos por dólar.
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