(Bloomberg) — O Banco Central ampliou as intervenções no câmbio para interromper o movimento unidirecional de alta do dólar, diz Carlos Kawall, diretor da Asa Investments e ex-secretário do Tesouro Nacional.
Segundo ele, a autoridade monetária interpretou que o câmbio estava disfuncional, movimento que pode ter sido causado pela busca de proteção para as apostas na alta da bolsa.
“Claro que tem questões de fundamento, incerteza fiscal, mas o fato é que estava indo quase que numa trajetória solo frente aos outros emergentes e ele decidiu quebrar a dinâmica atuando de forma mais incisiva.”
O Banco Central mudou sua estratégia de atuação no câmbio na semana passada, após moeda superar R$ 5,80, com a piora da percepção de risco sobre o país.
Desde então, o BC passou a fazer leilões de swap cambial e à vista mesmo quando o dólar registrava queda. A autoridade monetária vendeu o equivalente a US$ 3,155 bilhões em três dias de atuação na semana passada.
O dólar acumulava alta de cerca de 12% no ano até o dia 9 de março, véspera da nova atuação do BC, no pior desempenho em uma cesta de 24 moedas emergentes. Em contrapartida, desde então o dólar caiu cerca de 3%.
Analistas enxergaram uma preocupação do BC com o nível elevado do câmbio, e não apenas com a volatilidade, como a autoridade monetária apontava até então. Além disso, o dólar alto também pressiona a inflação, com reflexos sobre a taxa de juros.
Kawall não acredita que o objetivo das intervenções esteja ligado à política monetária. Segundo ele, o Banco Central poderá dar explicações sobre a nova estratégia após passar o período de silêncio que antecede a decisão do Copom na quarta-feira.
Ele estima que o BC iniciará um ciclo de alta da Selic já nesta semana, com elevação de 0,50 ponto percentual, para 2,5%, em decisão “bastante complexa”. Se por um lado a inflação subiu, por outro o agravamento da pandemia de coronavírus prejudica a atividade.
“O BC está colhendo o pior dos mundos. Alta da inflação com sinais de arrefecimento da atividade que deve continuar no segundo trimestre.”
Tentação populista
Kawall prevê que as próximas semanas serão turbulentas, com a piora da pandemia e manutenção do prêmio de risco do país elevado.
Recentemente, o avanço do dólar foi puxado pela troca de comando da Petrobras feita pelo presidente Jair Bolsonaro e pelas incertezas fiscais.
Também pesou a decisão do ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal, de anular as condenações do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, tornando-o elegível em 2022.
“Isso mostrou a ideia do medo de que o governo atual exacerbe a tentação populista frente à necessidade de se contrapor eleitoralmente ao Lula”, afirmou.
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