Com dólar perto dos R$ 5 novamente, janela de oportunidade para investir no exterior fechou?

Após acumular uma desvalorização de 10,6% frente ao real até julho, o dólar comercial avançou 5,4% na primeira quinzena de agosto e voltou ao patamar de R$ 4,98 nesta terça-feira (15). Para os investidores brasileiros interessados em investir no exterior, a reviravolta é inoportuna – na mínima do ano, a moeda americana encostou em R$ 4,69 em julho.

A janela de oportunidade para enviar dinheiro para fora a um custo baixo fechou?

O professor de finanças da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Fábio Gallo, acredita que não. Segundo ele, foi uma inversão momentânea devido ao contexto internacional, principalmente. “Se as coisas andarem bem no Brasil, com a aprovação das reformas, a tendência é de que a taxa de câmbio fique um pouco abaixo do valor atual no fechamento do ano”, diz.

Nos últimos dias, a moeda dos Estados Unidos ganhou força no exterior em meio a preocupações com a economia chinesa e, consequentemente, a queda dos preços das commodities. Como grande parceiro comercial do Brasil, a China mais enfraquecida é algo negativo para o real.

Mas não foi só frente ao real que se percebeu um avanço do câmbio. O dólar valorizou globalmente. O índice DXY, referência da moeda americana frente a uma cesta de seis divisas fortes, superou os 103 pontos ao subir 1,5% em agosto, com ganhos firmes em relação ao euro e ao iene japonês.

Carlos Daniel, professor de economia do Centro Universitário do Distrito Federal (UDF), afirma que as altas e baixas do câmbio são naturais e não atingiram um nível que exige a revisão da estratégia de investimentos em dólar.

Não é um momento para medidas drásticas. Tivemos notícias internacionais relevantes nos últimos dias e a reação do mercado é sempre forte. Com o tempo, as coisas se acalmam e as cotações estabilizam. O momento é de observar e aguardar.

Carlos Daniel, professor do Centro Universitário do Distrito Federal

De acordo com o último Boletim Focus, desta segunda (14), a estimativa para a cotação do dólar no fim deste ano é de R$ 4,93. Houve uma ligeira alta frente à semana anterior, que indicava a moeda a R$ 4,90 no fim de 2023. Para 2024, a projeção se manteve em R$ 5,00.

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Investimentos x gastos em dólar

Os professores ouvidos pelo InfoMoney afirmam que a situação é diferente para quem faz investimentos ou quem planeja compromissos em dólar, como viagem, intercâmbio e outros.

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Quem investe pode esperar o cenário se acalmar para definir o que fazer. Já quem tem uma viagem marcada, por exemplo, e se preocupa em não ter dinheiro suficiente, o jeito é comprar mesmo assim”, diz Gallo.

Entretanto, o professor da FGV aconselha que a compra seja feita aos poucos, para estabelecer uma cotação média de dólar mais interessante, do que fazer o câmbio do valor inteiro com uma taxa mais cara.

Para quem pode esperar, Daniel acredita que o cenário brasileiro é promissor para valorização do real nos próximos meses. “Quando você olha para as reformas que estão por vir, tributária e de despesas do governo, são promissoras e devem tramitar até novembro. Se aprovarem, acredito que o dólar voltará a cair”, diz o professor.

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Agora ou nunca?

Já para quem planeja dolarizar a carteira, acertar o momento do dólar não é uma ciência exata e essa não deve ser a principal preocupação, segundo os especialistas.

É melhor fazer uma remessa em reais quando o dólar está mais barato. Mas, uma alta pontual da moeda não invalida a tese de ter investimentos no exterior

Leandro Petrokas, diretor de research e sócio da Quantzed

Segundo Petrokas, a volatilidade do dólar frente ao real é natural e dela não há como fugir. Os valores sempre irão variar e em algum momento o investidor terá que decidir com qual preço iniciará sua dolarização da carteira.

“Quando acontece uma queda forte do dólar frente ao real, abre-se uma janela de oportunidade que pode se manter ou não. Para quem deseja e tem perfil para investir no exterior, quer aproveite a janela ou não, o dólar pode subir ou cair no dia seguinte”, diz Petrokas. “O importante é ter clareza e segurança do objetivo do investimento.”

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A natureza volátil do câmbio acrescenta riscos aos investimentos internacionais. Por isso, Gallo, da FGV, sugere que sejam feitos apenas com a parcela de dinheiro que não fará falta ao investidor no curto prazo.

“Se o investimento tem um objetivo, uma finalidade de curto prazo, como comprar um carro, ou de longo prazo, como uma aposentadoria, não é indicado arriscar”, diz Gallo. “No momento do resgate, o câmbio pode ser desvantajoso e resultar em um prejuízo que fará a diferença. É importante estar ciente disso.”

Para Daniel, da UDF, outra consideração importante é a de risco X retorno. O professor destaca que, em termos de retorno, os juros brasileiros são maiores do que os americanos.

Se o objetivo é retorno financeiro, no Brasil se paga mais atualmente. Agora, se o objetivo é segurança e minimização de riscos, então os bonds e as Treasuries são boas opções. Desde que se tenha em mente que não pagam tanto quanto no Brasil.

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