Um corte de juros hawkish, ou seja, duro, manifestando forte preocupação com a inflação – e que abalou e muito diversos ativos pelo mundo.
Esta foi a visão do mercado para a decisão de política monetária Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC) do Federal Reserve, que reduziu a taxa de juros em 25 pontos base, estabelecendo a nova taxa entre 4,25% e 4,50% ao ano. Embora essa decisão estivesse amplamente prevista, as orientações futuras e as projeções econômicas apresentadas foram consideradas mais agressivas do que o esperado em termos de preocupação com a inflação.
Isso, inclusive, levou a um fortalecimento do dólar, fazendo com que ele disparasse 2,8% ante o real e atingisse nova máxima histórica, a R$ 6,267 (também por conta de preocupações com o fiscal no Brasil).
A expectativa já era de um “corte hawkish” – mas, mesmo assim, as sinalizações do Fed foram ainda mais duras do que as projeções dos investidores.
Conforme destaca a Nomad, as novidades ficaram por conta do resumo das projeções econômicas (SEP). O documento mostra quais são os cenários que membros do Fomc esperam para os principais indicadores comparando com as expectativas feitas em setembro.
Com relação à taxa de juros espera-se mais dois cortes de 0,25 ponto percentual ao longo do ano que vem, levando a taxa básica de juros para o intervalo entre 3,75% e 4% ao final de 2025. Em setembro a expectativa era de 4 cortes com as taxas ficando entre 3,25% – 3,5%. Agora, espera-se também um ciclo de afrouxamento mais lento com a média do intervalo para 2026 em 3,4% (de 2,9% no SEP de setembro). A expectativa de longo prazo para a taxa de juros ficou em 3%, acima portanto da meta de inflação de 2%, que seria atingida apenas em 2027. Por trás das revisões para a política monetária estão as mudanças nas projeções de inflação que agora apontam para 2,5% em 2025 (e 2,1% em 2026), além da expectativa de manutenção da resiliência no mercado de trabalho (com a taxa de desemprego permanecendo estável).
Com isso, o mercado ampliou as apostas para a manutenção dos juros pelo Fed na próxima reunião do dia 29 de janeiro, conforme aponta a plataforma de monitoramento do CME Group. Por volta das 16h50 (de Brasília), a ferramenta mostrava 88,5% de probabilidade de os juros serem mantidos no nível de 4,25% a 4,50% no próximo mês, ante 79,9% registrado antes da divulgação da decisão monetária desta tarde. Por outro lado, a possibilidade de corte mais brando, de 25 pb estava em 11,2%, ante 19% antes da publicação.
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Na redução acumulada até a reunião de maio, as apostas majoritárias eram de manutenção, a 44,3%, o que representa uma alta ante 30,8% antes da decisão. A projeção de corte de 25 PBs caiu de 47,3% para 43,6%. Em relação ao próximo ano, o cenário que tem mais força é de a taxa terminar 2025 na faixa entre 4,00% e 4,25%, com essa hipótese em 35,8%. A chance de uma redução para o nível de 3,75% a 4,00% aparecia logo atrás, em 29,3%.
O Morgan Stanley destacou que a orientação futura do Fed foi surpreendente. Carla Argenta, economista da CM Capital, ressaltou que o Fomc reconheceu a força da economia, enquanto a inflação continua elevada. As projeções de inflação foram ajustadas, aumentando a expectativa de PCE (índice de inflação preferido do Fed) para 3% em 2025. A taxa terminal de juros também foi elevada, indicando uma postura mais cautelosa em relação a cortes futuros.
Plínio Zanini, da Ciano Investimentos, mencionou que o corte foi esperado, mas as projeções indicam apenas mais dois cortes de 25 bps, refletindo um cenário de maior cautela em relação à inflação.
A redução da taxa de referência da política monetária para a faixa de 4,25% a 4,50% teve a oposição da presidente do Fed de Cleveland, Beth Hammack, que preferia manter a taxa de juros inalterada.
Étore Sanchez, da Ativa Investimentos, destacou que a dissidência na votação e a revisão das projeções de juros indicam um debate mais complicado sobre cortes futuros, especialmente em um cenário de déficits fiscais e pressões inflacionárias.
Nicolas Borsoi, da Nova Futura Investimentos, observou que o gráfico de pontos (dot plot) mostrou uma redução nas expectativas de cortes para 2025, sinalizando uma trajetória de juros futuros mais alta.
Apesar dos progressos, as preocupações com a inflação persistem e a próxima reunião de 2025 não deve resultar em cortes imediatos, com os mercados reagindo negativamente às novas projeções, avalia Danilo Igliori, da Nomad.
Esse cenário coloca mais um ingrediente para a disparada do dólar ante o real, que tem renovado máximas históricas no último mês. Enquanto o mercado demonstra enorme desconfiança no compromisso fiscal do governo, apesar de avanços na tramitação das medidas de contenção de gastos no Congresso, a visão de um afrouxamento monetário menor nos EUA ajudou a fortalecer a moeda norte-americana nos mercados globais, gerando pressão sobre divisas de países emergentes, uma vez que os rendimentos dos Treasuries saltaram.
O dólar saltou frente ao real, mas também em relação a outras moedas. O índice do dólar — que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas — subia 1,14%, a 108,150.
(com Reuters e Estadão Conteúdo)
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