As últimas sessões têm sido de forte volatilidade para o dólar em relação ao real, com a disparada de quase 2% registrada na terça-feira (13). A semana passada foi de queda para divisa americana, após uma terça (6) de forte alta, mas uma sequência de baixa nos dias seguintes. Já o fechamento de quarta-feira (14) foi com leve baixa, com o dólar rondando os R$ 5,18, em leve desvalorização no mês.
Boa parte desses movimentos é atribuída a fatores como os sinais de alta de juros nos EUA, como a repercussão de dados de inflação fortes na maior economia do mundo, ou sinais de que o Banco Central ainda demorará a reduzir os juros por aqui, ainda que as leituras do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de julho e agosto tenham apresentado deflação. O noticiário político, às vésperas do primeiro turno das polarizadas eleições presidenciais, ainda parece não fazer tanto preço no câmbio.
Contudo, analistas e estrategistas de mercado veem fatores políticos podendo impactar mais o mercado de câmbio, tanto neste ano quanto no ano que vem. Enquanto alguns analistas veem que o real pode se valorizar passadas as eleições de outubro, uma vez que tira um fator de incerteza do radar, outros apontam que um pleito mostrando pouca diferença entre os principais concorrentes pode ser um risco para a moeda. Olhando mais para frente, eventuais declarações do ganhador das eleições sobre medidas com impacto na política fiscal podem levar a um enfraquecimento do câmbio.
Para os estrategistas do Goldman Sachs, no curto prazo, um resultado acirrado nas urnas pode ser o maior “risco de cauda” para o real neste momento, com uma disputa apertada entre Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL). Contudo, apontam, a moeda brasileira ainda é “compra” frente a pares que não o dólar contanto que a eleição siga “sem drama”.
O banco nota que algumas medidas de percepção da eleição têm se mantido conforme se aproxima 2 de outubro, o que eles atribuem a uma combinação de elevado “carry” (retorno de taxa de juros) da moeda brasileira, maior sensibilidade (beta) da moeda aos preços das commodities, a queda recente do dólar e o ambiente global.
Além disso, os altos preços das matérias-primas, a inflação (que permaneceu por meses em dois dígitos) e uma recuperação econômica moderada proporcionam algum alívio temporário para os desafiadores problemas fiscais do Brasil. Esses fatores podem estar tirando o foco dos investidores de potenciais diferenças de política econômica entre os principais candidatos, destacam.
“De fato, alguns investidores de câmbio parecem mais preocupados com um resultado próximo e qualquer volatilidade (derivada da) política do que com um resultado que apresente uma ampla margem de vitória. Nós tendemos a concordar”, apontam.
De toda forma, ponderam, ainda que o peso mexicano seja a moeda favorita do Goldman Sachs para compra na América Latina, o elevado “carry” e baixa exposição da moeda brasileira a algumas fontes de choques globais (como os originados na Europa) mostram que o real é uma “compra razoável frente a pares que não o dólar nas próximas semanas, desde que as eleições continuem sem grandes reviravoltas”.
Visões pré e pós-eleições
Em análise da semana passada, Bertrand Delgado, estrategista para mercados emergentes do Société Générale, destacou que a taxa de câmbio brasileira deverá permanecer dentro de um intervalo estreito, mas com inclinação para enfraquecimento, segundo o qual investidores continuarão tensos em relação às perspectivas fiscais no pós-eleição, num combo que impulsionará o dólar para R$ 5,95 em junho de 2023.
Delgado citou em relatório a força do dólar no exterior, os rendimentos (“yields”) mais altos dos títulos do Tesouro dos EUA, a elevada volatilidade dos mercados – com o Federal Reserve com discurso contracionista para a política monetária – e a percepção de fim do ciclo de alta de juros no Brasil como ventos contrários à moeda doméstica, afetada ainda pela piora dos termos de troca.
“Enquanto isso, os investidores permanecerão provavelmente inquietos sobre a sustentabilidade fiscal pós-eleições, especialmente sobre como reverter os gastos fiscais impulsionadores (redução de impostos, programas de auxílio) à medida que a economia desacelera rapidamente (de 2022 para 2023)”, acrescentou o estrategista.
Assim, o Société Générale estima que o dólar fechará este ano em R$ 5,50, disparando ao fim de junho de 2023 a R$ 5,95.
Mas a moeda brasileira ainda teria pontos favoráveis – o retorno ajustado pelo risco e o valuation “barato”, que funcionariam como um “colchão”.
A equipe de análise econômica do BV avalia que a expectativa de câmbio pressionado se mantém. A combinação do cenário de redução da liquidez no mercado internacional com as incertezas locais, estas relacionadas à política econômica após as eleições, devem manter o real pressionado frente ao dólar. “Assim, mantemos nossa expectativa de que o dólar encerre este ano em R$ 5,50 e o próximo em R$ 5,30”, aponta.
A XP avalia que a taxa de câmbio tem mostrado bastante volatilidade, mas segue com a previsão de R$ 5,00 por dólar ao final de 2022 e de R$ 5,30 ao final de 2023, apontando que real está entre as moedas emergentes que mais desvalorizaram em relação ao dólar nos últimos meses.
O cenário base considera que o real apresentará alguma valorização até o final do ano devido a: 1) descompressão dos prêmios de risco após as eleições locais, 2) níveis ainda relativamente altos de preços de commodities (em que pesem as correções baixistas recentemente) e 3) sinais de desinflação (ainda que gradual) na economia global até o final de 2022. “Por outro lado, acreditamos que o real depreciará novamente no próximo ano em linha com as preocupações com a agenda de consolidação fiscal”, reitera.
O Santander aponta que as incertezas para o próximo ano estão se avolumando. “Além do aperto monetário mais forte nas economias avançadas e emergentes, há o choque energético sobre a Europa, a seca no Hemisfério Norte, e os efeitos
das sanções econômicas e comerciais sobre a Rússia”, avalia. Segundo a análise de equipe econômica do banco, há alta probabilidade de uma desaceleração global sincronizada, o que não se vê desde a crise de 2008 e 2009.
“Esperamos fortalecimento do dólar e leve queda nos preços de matérias primas, com o índice CRB chegando a 572 pontos em ao fim de 2022 e em 521 pontos ao fim de 2023”, avalia o banco, que projeta o dólar em R$ 5,30 ao fim de 2022 e em R$ 5,40 ao fim de 2023.
No Brasil, apontam os economistas, o efeito das medidas de redução de tributos e aumento de despesas serão plenamente sentidas no próximo ano, quando também a atividade econômica sofrerá desaceleração.
“Haverá um novo mandato presidencial, que se inicia com atividade sem impulsos dinâmicos, núcleos inflacionários pressionados pelo hiato do produto fechado, e pressões fiscais levando o setor público de um superávit primário de 1,0% do PIB para um déficit de 1,4% do PIB, conforme nossas estimativas. Será necessário restabelecer um marco fiscal que ancore expectativas na evolução sustentada da dívida pública”, aponta.
Apesar da desinflação esperada (de 6,3% em 2022 para 5,3% em 2023), os economistas veem maior resistência para a
desinflação adicional no horizonte de referência estendido pelo Banco Central. Junto com os fatores de riscos internos e externos mencionados, a persistência inflacionária tende a pressionar os prêmios de risco e as taxas de juros de mercado.
“A grande dúvida é se a política econômica irá buscar prêmios de risco mais baixos ou se os prêmios de risco deverão se ajustar a possíveis novas configurações da política econômica”, aponta o Santander.
(com informações da Reuters)
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