O dólar blue, negociado no mercado paralelo, superou a marca de 500 pesos argentinos e atingiu máxima histórica nesta quarta-feira (12). O movimento reflete a falta de um acordo mais flexível com o Fundo Monetário Internacional (FMI), além incertezas eleitorais, a um mês das primárias presidenciais.
Segundo levantamento do jornal Ámbito Financiero, o dólar blue subiu 3 pesos argentinos na sessão de hoje e terminou a tarde negociado a 503 pesos, novo recorde nominal. Na cotação oficial, a moeda americana era vendida a 275,50 pesos argentinos, conforme o Clarín.
Investidores aguardam a divulgação da leitura de junho da inflação ao consumidor (CPI), que permaneceu acima da taxa anual de 100% em maio. O cenário amplia as dúvidas sobre a viabilidade eleitoral do atual ministro da Economia, Sergio Massa, que concorre na chapa peronista apoiada pelo presidente Alberto Fernández, que optou por não buscar a reeleição.
Massa tem trabalhado para flexibilizar o acordo de reestruturação da dívida com o FMI, que atualmente está condicionado a metas econômicas e medidas de austeridade que, para o governo, sufoca o país. A seca histórica no começo deste ano agravou a situação. Nesta semana, uma comitiva da Argentina viajou a Washington para novas conversas com o Fundo, mas até agora um entendimento não foi anunciado.
Operação ilegal
“O dólar blue é um índice de cotação que comercializa um dólar paralelo. É uma moeda não fiscalizada pelo Banco Central local. Em outras palavras: é ilegal”, explica João Victor Patrocinio, especialista internacional do escritório de investimentos Blue3. “É uma cotação criada para fazer o dinheiro de transações ilícitas circular na economia”, completa o especialista.
Para não cair em ciladas, o InfoMoney buscou 7 respostas de especialistas sobre o dólar blue na Argentina, a partir de informações repassadas por João Victor Patrocinio, especialista em investimentos da Blue3; Mariano Carricat, advogado argentino especialista em Mercado de Capitais e sócio do BCCB Advogados; e Caio de Souza, sócio-fundador da Elev Investimentos.
Confira:
1. O que é o dólar blue?
O dólar blue é uma cotação do dólar no mercado paralelo na Argentina. A negociação acontece de forma extraoficial, sem fiscalização e autorização do Banco Central do país.
O dólar tem as cotações oficiais como o dólar comercial, utilizado nas transações comerciais, e o dólar turismo, utilizado em viagens ou na compra de produtos importados, por exemplo. O dólar blue também é uma cotação, porém do mercado paralelo.
É uma forma de fazer o câmbio entre o peso e o dólar, ou peso e real. Neste momento, com o peso desvalorizado, quem tem dólar ou real em mãos tem mais poder de compra e consegue trocar por mais pesos.
O nome dólar blue é como o mercado paralelo de dólar é chamado na Argentina. Esse mercado secundário e não oficial também existe em outras economias.
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2. Como é feita a cotação?
Por não ter uma fiscalização, o dólar blue é super volátil. A cotação varia conforme o negociado entre cambistas, doleiros e casas de câmbio não legalizadas. Na prática, isso significa que não há regras sobre a cotação, o que dificulta uma padronização.
Por isso, a cotação muda todos os dias.
“A diferença entre os tipos de cotação é que a taxa do dólar paralelo tem um spread cambial mais baixo que a do dólar oficial. Por isso, o consumidor pode ver uma vantagem em fazer o câmbio com o dólar blue. E varia conforme a demanda, que agora está alta. Então, mesmo o lucro do cambista sendo menor, ele ganha em volume”, explica Patrocinio.
3. Dólar blue é ilegal?
Sim. O dólar blue é ilegal porque não é regulado e nem fiscalizado pelo governo ou Banco Central local.
Na tentativa de reduzir essa comercialização do mercado paralelo, o governo argentino anunciou uma medida inusitada: o turista poderá trocar dólares por um câmbio mais próximo ao encontrado no mercado paralelo em casas de câmbio autorizadas e bancos, segundo matéria do jornal argentino Clarín. O valor máximo do câmbio será de US$ 5 mil.
O Instituto Nacional de Promoção Turística, órgão do governo argentino, mostra que nos últimos seis meses de 2022, comparado com o mesmo período pré-pandemia, em 2019, a recuperação de brasileiros por lá chegou em 65%. A expectativa é chegar em 100% dos turistas no território dos hermanos nos próximos meses na comparação com 2019.
4. O dinheiro negociado via dólar blue é falso?
Pode acontecer de o dinheiro nesta operação ser falso, e o turista ter dificuldade em utilizá-lo. Esse é o principal risco.
5. Da onde vem o dinheiro do dólar blue?
É difícil rastrear a origem do dinheiro comercializado via dólar blue, mas os especialistas explicam que, geralmente, está relacionado a algum tipo de crime.
“É um dinheiro proveniente de algo ilícito, como lavagem de dinheiro, sonegação, comércio de drogas e armas. A pessoa que compra não sabe a origem. É um mercado paralelo não oficial”, acrescenta Souza, da Elev Investimentos.
Muitas vezes as notas entram em circulação, e o próprio governo não consegue distinguir a origem do dinheiro. “É o dólar que entra na economia sem deixar rastros”, completa Souza.
6. Por que as pessoas compram?
Diante da crise econômica da Argentina, muita gente compra dólares para proteger o patrimônio, visto que o peso está em queda livre.
“As pessoas compram dólares porque é um refúgio, uma forma de preservar seu patrimônio em momento de muita inflação. Como o governo impõe limites para a compra de dólares no câmbio oficial, esse mercado paralelo ganha força”, diz Carricat.
Na Argentina, os cidadãos podem comprar até US$ 200 por mês em dinheiro. Se precisarem de uma quantia maior, devem buscar crédito. A medida, implementada em 2019, tem como objetivo frear a fuga de dólares e estancar a perda nas reservas do país.
Uma outra regra obriga os exportadores a converter dólares americanos em pesos argentinos no prazo de cinco dias após a transação. Diante das restrições e situação complicada na economia argentina, algumas empresas estão tentando driblar o Banco Central local usando até criptomoedas.
7. Quais os riscos de comprar o dólar blue?
O turista que faz o câmbio, via dólar blue, corre o risco de lidar com notas falsas e ter problemas na hora de usar o dinheiro em compras e no pagamento de serviços.
Também corre o risco de se envolver, indiretamente, com o crime de lavagem de dinheiro, sonegação e outras ilegalidades, considerando que é uma operação ilegal. Quem é flagrado nessa situação pode sofrer as sanções previstas em lei e, até mesmo, ser preso, segundo Souza.
“Os bancos têm seus números de série, mas as pessoas comuns e pequenos estabelecimentos não sabem diferenciar as notas não registradas pelo Banco Central”, alerta o sócio da Elev.
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