O dólar comercial é negociado abaixo de R$ 5 nesta quinta-feira (2) pela primeira vez desde junho do ano passado. Por volta das 11h (horário de Brasília), a moeda americana caia 1,63% frente ao real, a R$ 4,977 na compra e a R$ 4,978 na venda.
O câmbio é impactado hoje, principalmente, pelas sinalizações dos bancos centrais americano e brasileiro.
Ontem, diretores do Federal Reserve aumentaram a taxa básica de juros dos Estados Unidos em 0,25 ponto percentual, para o intervalo de 4,50% a 4,75%, e reforçaram o compromisso de controlar a inflação no país. Ao mesmo tempo, porém, Jerome Powell, presidente da instituição, sinalizou que a alta dos preços na maior economia do mundo parece estar controlada.
Com isso, os treasuries yields vêm caindo desde então, com o mercado entendo que as taxas, em breve, terão espaço para recuar. O título para dez anos era negociado ontem, antes do anúncio, a cerca de 3,50%. Hoje, ele toca 3,345%. O para dois anos, que estava em 4,20%, agora opera em 4,04%.
Os títulos do tesouro americano, por serem considerados um dos ativos mais seguros do mundo, atraem muito capital quando pagam retornos maiores. Com quedas consideráveis, no entanto, há um movimento de saída de dinheiro dos Estados Unidos, ou do dólar, para outras economias.
Ao mesmo tempo, o Banco Central brasileiro manteve a taxa Selic em 13,75%, mas, na divulgação, Roberto Campos Neto, presidente da instituição, indicou que pode manter as taxas de juros brasileiras em patamares elevados por mais tempo, por conta do risco fiscal.
Com o atual governo sinalizando que pretende gastar mais, mesmo com o Brasil em uma situação financeira já complicada, a autoridade monetária tem de manter a Selic em patamares elevados – para que investidores se sintam atraídos em trazer, ou manter, dinheiro para o país, apesar do risco maior de as contas públicas não serem honradas.
“Os números, as taxas de juros, ficaram dentro do esperado nos dois países, mas o que foi dito logo depois das tomadas decisões, tanto pelo Jerome Powell quanto pelo Campos Neto, foi o que mudou o mercado”, diz Fabrizio Velloni, economista-chefe da Frente Corretora. “Isso muda muito a dinâmica. Os investidores que estariam mandando dinheiro para os Estados Unidos de olho nos juros, começam a ver outros mercados de forma mais atrativa. No Brasil, a sinalização de que não teremos corte das taxas, torna o investimento em renda fixa muito mais atrativo”.
Esse movimento fortalece operações de carry trade – com investidores tomando dólares emprestados nos Estados Unidos, com juros menores, para investir em moedas com maiores rendimentos, caso do real.
Em relatório na véspera, a XP destacou que, nas últimas semanas, o real teve um desempenho inferior aos pares emergentes, com a deterioração das perspectivas fiscais e ruídos políticos no ambiente doméstico contrabalanceando a melhoria de fatores externos.
Mas, considerando tanto fatores estruturais quanto cíclicos, os modelos do economista Rodolfo Margato, que assina o relatório, sugerem que o dólar poderia estar entre R$ 4,50 e R$ 4,85. Isso mostra espaço para o fortalecimento do real ao longo do ano, apontou. Contudo, destacou que isso depende, em grande medida, de uma menor percepção de riscos domésticos, sobretudo no campo fiscal.
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