O dólar tinha ganhos expressivos em relação ao real nesta terça-feira (30), afastando-se do patamar abaixo de R$ 5, apesar de um acordo para elevar o teto da dívida dos Estados Unidos. Às 13h20 (horário de Brasília), o dólar subia 0,93%, a R$ 5,059 na compra e na venda, após uma máxima de R$ 5,069, ou alta de 1,14%.
As dúvidas se concentram na tramitação do texto no Congresso norte-americano, expectativas crescentes de mais aperto monetário pelo Federal Reserve e novos dados reiterando visão mais próxima de redução dos juros no Brasil (o que afasta o carry trade).
Segundo alguns participantes do mercado, o alívio após um calote do governo dos Estados Unidos ter sido possivelmente evitado dava lugar a temores de que o acordo sobre a dívida enfrentará uma trajetória complicada no Congresso. Uma série de parlamentares republicanos de linha dura disse na segunda-feira que vai se opor ao projeto de lei.
Matheus Pizzani, economista da CM Capital, apontou à Reuters que, embora haja alguma dissipação dos temores sobre a dívida que vinham impulsionando o dólar nas últimas semanas, a percepção sobre a condução da política monetária nas principais economias impede que o alívio afete de forma significativa os mercados emergentes.
Entre outros exemplos, ele citou a possibilidade crescente de que o Federal Reserve não encerre seu ciclo de aperto monetário em seu encontro de 13 e 14 de junho, como era precificado pouco tempo atrás.
“O que a gente vê é o Fed muito comprometido com o patamar de 2% (de inflação), que ainda está muito distante; tem vários indicadores de que, se não mantiverem uma postura rígida, não conseguirão levar a inflação para a meta”, avaliou Pizzani, que vê grandes chances de o banco central norte-americano pausar o aperto monetário na próxima reunião para avaliar o estado da economia e, depois, no encontro seguinte, voltar a subir os juros.
Quanto mais altos os juros nos EUA, mais o dólar tende a se beneficiar globalmente do redirecionamento de recursos para o mercado de renda fixa da maior economia do mundo.
Ao mesmo tempo, disse Pizzani, sinais de arrefecimento da inflação e retração do crédito no Brasil têm reforçado expectativas de que o Banco Central reduzirá a taxa Selic a partir do segundo semestre deste ano, o que “acaba não beneficiando tanto o real”, uma vez que implicaria rendimentos menores oferecidos pelos ativos locais.
Dados desta terça-feira mostraram queda histórica na inflação ao produtor acumulada nos 12 meses até abril, bem como no IGP-M de maio, enquanto relatório do BC mostrou nova contração da oferta de crédito.
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As concessões de empréstimos no Brasil recuaram 17,5% em abril na comparação com o mês anterior, informou o Banco Central nesta terça-feira, com o estoque total de crédito caindo 0,1% no período, a R$ 5,363 trilhões.
Antes disso, a Fundação Getulio Vargas (FGV) divulgou que a deflação do IGP-M se intensificou em maio para 1,84% e marcou a maior queda na série histórica iniciada em 1989. Em paralelo, o Índice de Preços ao Produtor (IPP), do IBGE, caiu 0,35% em abril, a terceira taxa mensal negativa seguida.
Segundo José Raymundo Faria Júnior, sócio e analista da Wagner Investimentos (WIA) a moeda americana aponta que pode subir para a faixa de R$ 5,05 a R$ 5,10.
“Por enquanto, entendemos que esta cotação é mais propícia para venda, mas deixando espaço para eventual stress do mercado. Teremos payroll [relatório de emprego nos EUA] na sexta-feira e número forte pode fazer o dólar subir devido aumento de chance de nova alta de juros nos EUA. Pelos dados semanais do Jobless Claims (pedidos semanais de auxílio desemprego) e Continuing Claims (número de pessoas que recebem o auxílio), o Payroll deve vir positivo novamente e a expectativa é de criação de 200 mil vagas”, aponta.
(com Reuters)
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