Dólar dos R$ 4,60 para R$ 4,90: o que explica a forte alta da divisa americana nas últimas sessões

A sessão desta terça-feira (26) volta a ser de alta para o dólar: às 9h12 (horário de Brasília), a divisa americana registrava avanço de 0,51%, a R$ 4,90 na compra e R$ 4,901 na venda.

Na véspera, o dólar já tinha voltado a registrar firme alta contra o real, fechando a última segunda-feira no maior patamar em mais de um mês, mais precisamente desde 22 de março de 2022. Contudo, depois de bater R$ 4,95, a moeda perdeu força e encerrou abaixo de R$ 4,90, na casa dos R$ 4,876, em meio a um alívio do mercado dos mercados norte-americanos ontem. Ainda assim, a pressão de curto prazo segue.

Ontem, o mercado até começou o dia vendendo dólares – na mínima, tocada ainda na primeira hora de negócios, a cotação caiu 0,17%, a R$ 4,7985. Mas começou a ganhar tração no exterior de forma com a deterioração dos mercados na Europa e à queda das matérias-primas por temores relacionados à economia chinesa e a um banco central nos EUA mais agressivo na política monetária.

Durante a tarde de segunda, a recuperação de Wall Street – onde os três principais índices fecharam em alta depois de quedas de até 1,66% – acalmou o nervosismo dos compradores de dólares, e a moeda se afastou das máximas sem necessidade de nova intervenção do Banco Central no mercado de câmbio.

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De toda forma, a pressão sobre as cotações chamou atenção. Na mínima do dia, a R$ 4,95 por dólar, o real chegou a acumular perda de 6,69% desde o fechamento de quarta-feira passada e de 7,43% frente à mínima intradia de 5 de abril (R$ 4,582).

Em dois pregões, o real amargou o pior desempenho entre seus principais pares emergentes. A alta do dólar acumulada no em apenas duas sessões foi de 5,59%, passando de R$ 4,62 para perto dos R$ 4,90, a mais forte na mesma base de comparação desde 18 de maio de 2017 (alta de 9,48%). Apenas naquela data, o dólar disparou 8,15%, reagindo à delação de Joesley Batista, um dos sócios da JBS, que envolveu o então presidente da República Michel Temer.

Apenas na sexta, o dólar já tinha avançado cerca de 4%, após o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, ter afirmado que uma alta de 50 pontos-base está na mesa para a próxima reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês). Além disso, também na sexta a presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, também disse em entrevista que “vê forte chance de alta de juros neste ano”.

“Há uma percepção, outrora de poucos, de que o Federal Reserve vai precisar subir os juros numa velocidade muito maior, com alguns analistas já prevendo altas de 75 pontos-base para o próximo Fomc, o que pode beneficiar o dólar”, comentou Alexandre Espirito Santo, economista-Chefe  da Órama, na ocasião.

Além disso, ruídos de natureza política voltaram a pesar sobre o mercado nos últimos dias. Investidores tiveram de lidar com novas manchetes sobre chances de aumento de gastos com o Auxílio Brasil, num contexto em que investidores já questionam as políticas econômicas a serem adotadas pelo governo que tomar posse em 2023.

Crise entre Poderes

Paralelo a isso, a crise entre os Poderes voltou a ocupar os holofotes após o presidente Jair Bolsonaro anunciar na quinta-feira passada decreto concedendo perdão ao deputado Daniel Silveira, condenado pelo Supremo Tribunal Federal por crimes de coação no curso do processo e atentado ao ​Estado Democrático de Direito.

“Mais preocupante, contudo, foi a tensão criada entre o Ministro Barroso do STF e as Forças Armadas sobre a lisura das urnas eletrônicas. Este assunto cria um clima de instabilidade forte para o pleito de outubro, e este tema é central para muitos investidores internacionais que veem na estabilidade democrática um ponto fundamental pra investimentos de longo prazo”, disse André Perfeito, economista-chefe da Necton Investimentos.

Para o economista, é difícil determinar se de fato as recentes questões políticas estão “formando preço” no mercado, mas ignorar estes temas não parece mais uma opção. “Está evidente que o mercado está de olho já na eleição, e as rusgas trocadas por um ministro do Supremo e as Forças Armadas não é um sinal alvissareiro”, finalizou.

Mas os fundamentos do real, amparados por melhora dos termos de troca, diferencial de juros ainda elevado a favor do Brasil e um juro real positivo, ainda endossam a visão benigna de Gustavo Menezes, gestor macro da AZ Quest, em relação à taxa de câmbio. Para ele, o cenário externo tem preponderado na dinâmica da formação do preço do dólar.

“Essa volatilidade, claro, traz alguns alertas, mas a gente sempre oscila dentro de posição comprada em real”, disse. “Esses ruídos (político-institucionais e eleitorais) acabam influenciando, mas a preocupação seria de ruptura, e tão perto já das eleições não devem preocupar”, completou.

Commodities e lockdowns na China

O Citi destaca que tanto a queda dos preços das commodities quanto as revisões para baixo no crescimento da China em meio às sinalizações de lockdowns mais fortes fizeram com que o real registrasse um forte movimento de queda em dois dias, assim como os sinais de aperto monetário e a tensão entre o Judiciário e o Executivo.

Enquanto os especialistas do banco não esperam que os preços das commodities caiam indefinidamente, a queda no curto prazo pode fazer com que o real chegue entre R$ 5,12 e R$ 5,20. Alguma força do real pode vir de uma aceleração do IPCA-15 divulgado pelo IBGE na quarta-feira, caso venha acima do esperado e aumente a expectativa de uma alta mais prolongada da Selic (atraindo mais capital para o Brasil e levando a uma fraqueza do dólar), mas o Citi nota que o Banco Central é um dos poucos bancos centrais que está perto de se aproximar do fim do ciclo de aperto de juros. No médio prazo, a eleição deve pesar no real e nos ativos locais, avaliam. Assim, os fundamentos e os indicadores técnicos aumentam “o conforto” em possíveis posições compradas em dólar, com os analistas vendo a próxima resistência em R$ 4,96.

(com Reuters)

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