Dólar em queda, Bolsa em alta: por que o discurso de Powell animou o mercado brasileiro?

Durante toda a manhã desta quinta-feira (19), o mercado brasileiro estava “vacilante”, à espera do discurso de Jerome Powell, presidente do Federal Reserve, marcado para às 13h (horário de Brasília).

A expectativa era alta pela declaração do chair do Fed, em meio ao recente cenário turbulento e com ele e seus colegas do banco central em aparente acordo para manter os juros básicos dos EUA em sua próxima reunião, daqui a duas semanas, mas com uma incerteza ainda grande sobre o que acontecerá depois disso.

Neste sentido, o mercado analisou com lupa o teor do discurso de Powell, que trouxe algumas manchetes a princípio consideradas mais “hawkish” (de preocupação com a inflação, indicando aperto monetário prolongado), mas que, num contexto geral, trouxe sinalizações mais dovish (a princípio de manutenção de taxa de juros).

Com isso, às 14h07 (horário de Brasília), o Ibovespa subia 0,84%, a 115.018 pontos, enquanto o dólar comercial caía 0,51%, a R$ 5,028 na compra e R$ 5,029 na venda.

“O dólar passou a cair após os comentários de Powell nesta quinta-feira. Ele manteve seu discurso de que novos aumentos na taxa de juros são possíveis, tendo em vista o forte crescimento da economia e seu impacto sobre a inflação. No entanto, seu discurso foi marcado por falas dovish. Ele observou que havia evidências de um arrefecimento no mercado de trabalho dos EUA e que os eventos geopolíticos em Israel haviam criado novas ‘incertezas e riscos’”, destaca Eduardo Moutinho, analista de mercado da Ebury.

Assim, Powell apontou que o banco central americano está “procedendo com cuidado” ao avaliar a necessidade de quaisquer outros aumentos nas taxas.

“Powell também ecoou a retórica de outros membros do Fomc, dizendo que os rendimentos mais altos do Tesouro restringiram as condições financeiras, ou seja, diminuíram a pressão sobre o Fed para continuar aumentando”, avalia Moutinho. Assim, destacou, a probabilidade implícita de outro aumento de juros pelo Fed caiu para 42%, ante 60% na terça-feira.

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Powell também apontou que as autoridades do banco central dos Estados Unidos estão agindo com cautela em relação à política monetária agora, depois de aumentos agressivos da taxa de juros no ano passado, para dar tempo para que condições mais rígidas desacelerem a economia e a inflação.

“Uma das razões pelas quais desaceleramos significativamente este ano é dar tempo para que a política monetária funcione”, disse ele no Economic Club of New York. “Temos que usar nossos olhos, um pouco de gestão de risco e paciência para diminuir o ritmo e garantir que estamos vendo todos os efeitos.”

Cabe destacar que discurso de outros integrantes do Fed estão no radar. Na segunda-feira (16), Patrick Harker, presidente do Fed da Filadélfia, disse que os juros deverão ficar “mais altos, por mais tempo” (“higher for longer”), uma expressão que se tornou um mantra dos diretores do Fed nas últimas semanas, aponta a Levante.

No entanto, avalia a equipe de análise, há discordâncias. Na quarta-feira (18), Christopher Waller, um dos membros do Fomc, defendeu uma pausa no aumento dos juros no curto prazo, para olhar mais indicadores econômicos. Waller disse que o Fed pode “esperar, observar e ver” antes de avançar nas taxas.

Para Danilo Igliori, economista-chefe da Nomad, o discurso do presidente do Fed, Jerome Powell, realizado no início da tarde no Economic Club of New York não ajudou muito para iluminar mais o que pode vir em termos de decisão.

O especialista destaca que mais uma vez foi enfatizado o cenário de desaceleração gradual da atividade econômica e da inflação. Reconheceu também um maior aperto nas condições financeiras do país. Novamente foi mencionado a determinação de trazer a inflação para a meta e o cuidado de observar um conjunto amplo de dados para orientar as decisões.

“Diferente da última reunião, está mais difícil cravar antecipadamente se vai ou não haver novo aumento de juros em novembro. Arriscaria dizer que se a reunião fosse hoje a probabilidade de manutenção seria maior. Mas tem muita coisa para acontecer até o final do mês, particularmente com relação aos desdobramentos da guerra no Oriente Médio. Se ficar claro que a oferta de petróleo vai sofrer de forma expressiva pode haver maior pressão para mais uma elevação”, aponta.

Porém, Igliori aponta que o cenário mostra que o mercado está prestes a virar o debate, deixando de olhar tanto para o nível final da taxa e se preocupando mais com quanto ela precisará ficar nos níveis atuais.

(com Reuters)

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