O dólar perdeu força contra o real no segundo trimestre deste ano, o que deve mexer no balanço das companhias. As exportadoras de commodities tendem a ser as mais impactadas na frente de faturamento, uma vez que seus produtos são comercializados na divisa norte americana. Por outro lado, apontam os analistas, os custos das dívidas, também em dólares, devem dar uma amenizada nos impactos
Ao levar em conta o preço de fechamento de todos os pregões do primeiro e segundo trimestre, a moeda americana saiu de uma média de R$ 5,15 para R$ 4,84, com queda de 6%. Na base anual, na comparação com o segundo trimestre de 2022, a baixa foi de 3,03%.
Com os produtos não-manufaturados sendo negociados na divisa dos Estados Unidos, é esperado, logicamente, que a receita recue. Ao mesmo tempo, os custos das companhias, esses em reais, aumentam por conta do fortalecimento da divisa brasileira.
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“Existe um peso negativo para as exportadoras e para empresas que possuem o preço dos seus produtos cotados no mercado global, mesmo que não exportem. Esse impacto é mais acentuado para empresas que não possuíam hedge, ou seja, que não se preparam para esses momentos”, explica João Daronco, analista da Suno Research.
“Com a redução das receitas, devemos ter uma possível queda de margem e, por consequência, uma queda da rentabilidade destas empresas. Entendo, porém, que é algo que impacta pouco as companhias. Parte das exportadoras possuem dívidas em dólar, o que alivia um pouco a pressão”, fala.
No caso de exportadoras, é comum que elas, por exemplo, emitam dívidas em dólar. Nesse cenário, apesar do recuo do faturamento, há também um menor gasto financeiro.
Thiago Avallone, especialista em câmbio da Manchester Investimentos, no entanto, expõe que, nesse cenário, é preciso avaliar caso a caso.
“Uma compensação pelos menores gastos financeiros irá depender de prazo, de quanto se tem emitido em dólar. É preciso analisar caso a caso. Daí temos a própria variação cambial, a rentabilidade a ser paga”, pontua ele.
O faturamento e os gastos podem aumentar mais ou menos do que os bônus adquiridos pelos menores gastos com dívida, o que deve interferir na margem de lucratividade.
Para o sócio e analista da Wagner Investimentos, José Faria Junior, ainda é preciso levar em conta a dinâmica de cada commodity. As margens tendem a avançar no caso do preço de um produto não-manufaturado subir, o que pode remediar o recuo da moeda americana.
“Eu acredito que a parte do agro está em situação mais complicada, porque o preço, por exemplo, do milho, do café, do algodão, estão bastante baixos. Ainda tem a questão dos prêmios de exportação, que estão bem negativos no Brasil no caso do milho e da soja”, expõe o especialista.
A queda nos preços das commodities agrícolas é considerável. A soja, por exemplo, recuou 24% na comparação de abril deste ano com junho do ano passado, com a saca, de 60 quilogramas, negociada a R$ 142. O combo entre uma safra recorde, e a comercialização atrasada, combinando em uma competição pela malha logística, explicam a baixa.
“Já as exportadoras de não-alimentos não estão, na minha opinião, tão mal. O preço do petróleo voltou a subir e sazonalmente estamos em uma época de petróleo mais alto também. O minério está com dificuldade de cair dos US$ 100 dólares e o alumínio está voltando a subir”, pondera.
No caso do minério, o segundo trimestre não empolga muito. O Bank of America, por exemplo, vê que o preço médio da commodity deve ficar, na média, em US$ 111 – queda de US$ 13 frente ao primeiro trimestre deste ano. As sucessivas frustrações com a reabertura econômica da China, em grande parte, justificam o recuo.
Fabrizio Velloni, economista-chefe da Frente Corretora, expõe ainda que os investidores devem monitorar durante a temporada de balanços a quantia que as exportadoras têm fora do país, em caixa deixado no exterior. Esse ponto também pode gerar, para além de um impacto no faturamento, um impacto no patrimônio.
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