O dia é de fortes ganhos para o dólar, que ultrapassou já durante a manhã desta quarta-feira (27) o patamar dos R$ 5 e acelerou a alta durante a tarde, acompanhando a maior aversão ao risco no exterior, com a visão mais consolidada de que os juros altos seguirão por mais tempo nos países desenvolvidos (notoriamente nos EUA).
Às 15h40 (horário de Brasília), o dólar comercial subia 1,38%, a R$ 5,055 na compra e na venda, após atingir máxima de R$ 5,08.
A última vez em que a divisa norte-americana havia superado os 5 reais nas negociações intradiárias fora no dia 18 de agosto. No entanto, o dólar não encerra um pregão acima dessa marca desde o início de junho.
O movimento de alta se intensificava conforme os rendimentos dos títulos do Tesouro norte-americano voltaram a subir e agentes financeiros continuavam apreensivos com a chance de uma paralisação parcial do governo dos Estados Unidos.
O presidente da Câmara dos Deputados dos EUA, o republicano Kevin McCarthy, rejeitou nesta quarta-feira um projeto de lei provisória de financiamento que avançava no Senado, aproximando Washington de sua quarta paralisação parcial do governo dos EUA em uma década.
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O impasse nos EUA é mais um componente negativo em um mercado já debilitado pelas preocupações com a possibilidade de juros mais altos por mais tempo em economias relevantes, incluindo os EUA, além de receios sobre a China, em particular o setor imobiliário daquele país.
De acordo com operadores, o movimento de alta do dólar neste pregão era impulsionado ainda por fatores técnicos, uma vez que a superação da marca de R$ 5 provavelmente acionou mecanismos de “stop loss”, ou ordens automáticas de compra.
“É o ‘stop’ que bate, e nesta semana já começou o movimento da Ptax; o pessoal que está comprado (em dólar) vai aproveitar esse movimento” para impulsionar a moeda norte-americana a patamares mais interessantes a suas posições, explicou à Reuters Hideaki Iha, operador de câmbio da Fair Corretora.
A Ptax é uma taxa de câmbio calculada pelo Banco Central que serve de referência para a liquidação de contratos futuros. No fim de cada mês, agentes financeiros costumam tentar direcioná-la para níveis mais convenientes às suas apostas, sejam elas de que o dólar vai subir ou de que vai cair.
“A alta do dólar está refletindo duas conjunturas momentâneas muito desfavoráveis: 1) percepção de que os juros americanos ficarão elevados por longo tempo, o que favorece a moeda americana e 2) ruídos domésticos relacionados ao lado fiscal, com a questão dos precatórios e o impacto sobre as contas públicas. Existe um temor do mercado que o governo não consiga entregar o déficit primário zero ano que vem, que ele prometeu. Creio que esse valor mais puxado pode perdurar por algum tempo”, aponta Alexandre Espirito Santo, economista-chefe da Órama.
Na mesma linha, o economista André Perfeito avalia que o dólar deve ficar no patamar de R$ 5,00 ao longo deste final de 2023.
A alta do dólar também está em linha com a valorização da divisa norte-americana em relação a uma cesta de partes fortes, contra as quais tem vivido um rali nas últimas sessões depois que o Federal Reserve indicou aos mercados que manterá os juros mais altos por mais tempo de forma a combater a inflação.
O banco central dos EUA manteve sua taxa básica na semana passada, mas seus membros ainda esperam mais uma alta de 0,25 ponto percentual este ano e elevaram as projeções para o patamar dos juros em 2024, conforme a maior economia do mundo mostra resiliência surpreendente –o que nubla a perspectiva de controle da alta dos preços.
Quanto mais altos os juros nos Estados Unidos, mais a divisa dos EUA tende a se valorizar globalmente, uma vez que os rendimentos dos Treasuries ficam atraentes quando comparados aos retornos de títulos emergentes, de risco muito maior.
(com Reuters)
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