SÃO PAULO (Reuters) -O dólar avançava contra o real nesta quinta-feira, chegando a superar os 5,45 reais nas máximas do dia depois que as autoridades do Federal Reserve abalaram os mercados globais ao levantarem a possibilidade de redução de estímulos já em 2021, em meio ainda às teimosas incertezas políticas e fiscais domésticas.
Às 10:56, o dólar avançava 0,52%, a 5,4041 reais na venda, depois de ir a 5,4568 reais no pico da sessão (+1,50%). Na B3, o dólar futuro subia 0,42%, a 5,4185 reais.
A maior parte do comitê do Fed que define as taxas de juros está se unindo em torno de um plano que fará com que o banco central dos Estados Unidos comece a cortar seu programa de compra de títulos no fim deste ano, mostrou a ata de sua última reunião.
Embora o documento tenha tentado desvincular o fim das compras com a necessidade mecânica de alta de juros, “o mercado ainda deve enxergar que quão mais cedo ocorrer o anúncio, maior a probabilidade de aumento da taxa de juro no final de 2022”, disse a equipe de pesquisa macro do BTG Pactual.
“O resultado desses fatores poderia promover uma mudança no diferencial de juro esperado nas curvas de juros das economias maduras e também emergentes, dando uma sustentação para o dólar global permanecer nesse patamar mais forte que vem negociando”, afirmaram os estrategistas em relatório de quarta-feira.
No exterior, o índice do dólar contra uma cesta de pares fortes subia 0,15% nesta manhã, depois de atingir máximas em nove meses mais cedo. Contra peso mexicano, rand sul-africano e lira turca, divisas emergentes pares do real, a moeda norte-americana também apresentava ganhos.
Por aqui, “o otimismo no mercado financeiro acabou”, disse à Reuters Vinicius Martins, gerente da Phi Investimentos. “O preço (do dólar) que estamos vendo faz jus ao momento do mercado e não há grandes indícios de melhora. Isso porque um alívio dependeria de vários fatores difíceis de serem resolvidos no curto prazo: a questão fiscal doméstica, principalmente com a aproximação das eleições, e o endurecimento da postura do Fed lá fora.”
O esforço do governo brasileiro por mudanças nos pagamentos de precatórios e mais gastos com auxílio à população têm elevado as dúvidas dos agentes dos mercados sobre a capacidade do governo de respeitar seu teto fiscal, enquanto atrasos na votação do projeto que altera a cobrança do Imposto de Renda colaboram para a aversão a risco e volatilidade nos mercados domésticos, disse Martins.
Questionado se o Banco Central poderia intervir de forma mais veemente no mercado de câmbio frente à valorização do dólar aos patamares elevados atuais, ele disse que o “BC só vai intervir se o movimento do dólar for muito específico e houver descolamento do Brasil em relação a outras economias semelhantes”, o que não é o caso no momento, uma vez que a moeda norte-americana está ganhando força globalmente.
A última vez que o dólar encerrou um pregão acima dos 5,45 reais foi em 27 de abril deste ano, quando fechou cotado a 5,4625.
Na véspera, a moeda norte-americana spot saltou 2,04%, a 5,3759 reais na venda, seu maior nível desde 4 de maio (5,4322 reais) e a maior valorização percentual diária desde 30 de julho (+2,53% reais).
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