O dólar vem, nas últimas semanas, perdendo força contra o real de forma relevante. De cerca de R$ 5,40 nos primeiros pregões deste ano, a moeda americana agora é negociada por volta dos R$ 5,10 (apesar da alta na sessão desta sexta), contrariando algumas expectativas de valorização da divisa americana em meio ao início do governo do petista Luiz Inácio Lula da Silva.
Em grande parte, porém, o enfraquecimento da divisa norte-americana frente à brasileira não se deve ao cenário interno mas sim à melhora de fatores internacionais que pesam diretamente na força do real.
“A princípio, o risco de recessão nos Estados Unidos e a expectativa de que o banco central norte-americano irá segurar momentaneamente a alta de juros favorece países emergentes”, explica Diego Costa, head de câmbio para Norte e Nordeste B&T Câmbio.
Nas últimas semanas, houve uma inversão do sentimento de investidores com os Estados Unidos. Se antes a inflação era a preocupação, com a perspectiva de que o Federal Reserve poderia subir mais os juros, agora a atividade econômica fraca entrou no radar, após a alta dos preços aparentemente ter feito pico.
“O mercado está entendendo que a economia dos EUA está em um processo de pouso suave. A preocupação de que o juro teria que subir forte por lá para trazer a inflação para baixo está perdendo força. A teoria que está se consolidando é que o Fed não precisará subir tanto as taxas e que os efeitos das altas já vai fazer a economia se acomodar”, explica Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating.
A taxa de juros nos Estados Unidos é um fator que impacta a economia brasileira – bem como quase todas as demais do planeta.
Pelos títulos do tesouro americano serem considerados os ativos “mais seguros do mundo”, quando eles são negociados a taxas maiores cria-se um fluxo de capital para estes papéis. Isso diminui o capital disponível para outros investimentos, principalmente os provenientes que oferecem mais riscos, caso dos países emergentes como o Brasil.
O movimento de queda da moeda americana se estende em relação a outras moedas. O DXY, índice que mede a força do dólar frente a outras moedas de países desenvolvidos, deixou de ser negociado a 104 pontos, no começo do ano, para operar agora no patamar dos 101 pontos. Olhando mais longe, em setembro do ano passado ele chegou a tocar os 114 pontos, tendo queda, então, de mais de 10%.
“Os dados nos Estados Unidos ainda vieram bem favoráveis. O país está com a inflação aparentemente controlada e o Federal Reserve sabe que não pode subir muito os juros, pelo fato de a economia americana estar ligada muito a setores como o real state e bens duráveis”, acrescenta Fabrizio Velloni, economista-chefe da Frente Corretora.
De acordo com os especialistas, a percepção de que o Fed não poderá subir muito os juros, ou causará uma recessão maior do que a precificada, ganhou força.
China e noticiário também fazem preço no dólar
Além da situação do próprio Estados Unidos, a China também vem puxando a força do real para cima. O país asiático é a segunda maior economia do mundo e o maior consumidor de commodities – produtos que são destaques na balança comercial brasileira.
“Tivemos recorde de turismo na China. Isso demonstra que a quebra das restrições impostas pelo controle da Covid-19 está trazendo resultado e cria a perspectiva de que o crescimento, por lá, será maior neste ano”, aponta Velloni. “Isso fez com que os preços de commodities, tivessem uma alta considerável mundialmente, sendo que o real tem correlação grande com esses produtos”.
De acordo com o especialista, até então, a entrada de capital estrangeiro no Brasil está muito atrelada a empresas exportadoras.
As ações ordinárias da Vale (VALE3), do setor de mineração, acumulam alta de mais de 7% em janeiro, as da CSN (CSNA3), de siderurgia, mais de 26%, e as da PetroRio (PRIO3), de petróleo, mais de 18%.
Antes disso, no entanto, o real descolou, por causas políticas, um pouco do restante das moedas de países emergentes, que são, todas, muito atreladas a commodities.
“A gente estava com uma defasagem em relação a outras moedas e ao dólar, até porque vieram algumas falas polêmicas do novo governo, como moeda única, fim da independência do Banco Central, etc. Isso deixou o mercado mais tenso”, debate Velloni.
A perspectiva recente é que o novo governo, de um partido historicamente menos simpático ao controle fiscal, vem ajustando seu discurso.
“ Investidores domésticos estão dando sinais de que compreenderam que não há espaço para o governo atual dar um cavalo de pau na economia e adotar políticas heterodoxas tão pouco para manobras que podem tirar a economia brasileira dos eixos”, comenta Agostini. “Está claro que o Fernando Haddad [ministro da Fazenda] traz alguma preocupação quanto ao equilíbrio fiscal, apesar da PEC de Transição. Isso traz algum efeito”.
Diego Costa, da B&T, declara que a moeda americana deve seguir oscilando no curto prazo.
“O Relatório Focus nesta semana manteve sua expectativa em R$ 5,28 para 2023, no entanto a coisa pode mudar muito rapidamente a depender dos próximos passos da política monetária nos EUA e fiscal por aqui”, debate o especialista.
Para a Wagner Investimentos, há, contudo, uma tendência de alta para o dólar no médio e longo prazo.
“Em que pese o real estar bem atrasado em relação ao mercado global de moedas, mesmo se comparado com Chile e Colômbia, há um cenário para compra. Temos a favor do real a reabertura da China, queda do DXY e o diferencial de juros (em que pese o carrego ter caído de perto de R$0,05 por mês para menos de R$0,03)”, avalia a casa. “Os próximos dados do EUA serão muito relevantes para entender se o Dollar Index irá parar em 100 ou se continuará caindo. Isso vai afetar a dinâmica aqui”.
O JP Morgan, em relatório publicado nessa semana, menciona que o real se saiu pior do que as moedas de emergentes sul-americanos por conta dos ruídos políticos.
“O real apreciou cerca de 3% frente ao dólar americano, significativamente menos do que outras moedas de países relacionados com a venda de commodities, que estão sendo beneficiados pela reabertura da China. No mesmo período, o peso chileno avançou 13% e o colombiano, 9%”, explicam os analistas do banco americano. “A performance do real foi impactada pelos ruídos fiscais, mas achamos que o discurso político deve se tornar mais construtivo nos próximos meses. Isso deve permitir que o real alcance parte do desempenho de seus pares e se beneficie de melhores termos de troca”, finalizam.
Luiz Felipe Bazzo, CEO do transferbank, avalia que os anúncios recentes de Haddad estão sinalizando comprometimento fiscal, diminuindo o chamado risco Brasil.
“Dessa maneira, a Selic brasileira, atualmente em 13,75% ao ano, fica mais vantajosa em relação aos juros americanos e atrai mais capital estrangeiro ao país”, diz.
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