Ibovespa renovando máximas históricas, dólar na mínima em 15 meses – com os investidores de olho principalmente nos juros dos EUA. O ânimo do mercado tem sido uma constante nas últimas sessões de setembro, mas as recentes sinalizações americanas no campo político podem afetar os ativos brasileiros?
O motivo para uma possível apreensão reside na possibilidade de retaliação do governo norte-americano contra o Brasil. Isso após a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro pelo Supremo Tribunal Federal (STF) na quinta-feira por tentativa de golpe de Estado após perder as eleições de 2022.
No fim de semana, a agência de classificação de risco Moody’s fez um alerta de que retaliações podem vir na forma de reversão das isenções concedidas a produtos brasileiros.
Setores como o de exportações de aeronaves, petróleo e suco de fruta, que hoje figuram na lista de exceções tarifárias, são os mais vulneráveis, enquanto os bancos brasileiros também poderiam ser atingidos por eventuais medidas.
A Moody’s vê risco no setor financeiro, que representa 22% do investimento estrangeiro direto dos EUA no Brasil. “Os bancos brasileiros até agora evitaram sanções, mas medidas podem interromper operações transfronteiriças e minar a confiança dos investidores”, alertou, em comentário ao Broadcast.
Nesta segunda, por sinal, o secretário de Estado dos Estados Unidos, Marco Rubio, foi incisivo, voltou a criticar o Judiciário brasileiro e sinalizou que Washington prepara novas medidas contra o Brasil nos próximos dias. Em entrevista à Fox News na última segunda, durante visita a Israel, o chefe da diplomacia americana afirmou que o “estado de direito está se rompendo” no país após a condenação de Bolsonaro.
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Para Leonardo Santana, especialista em investimentos e sócio da casa de análise Top Gain, a fala de Rubio pode sim afetar o otimismo com o Brasil, uma vez que há uma grande migração de capital externo para o país.
“O capital está saindo da renda fixa norte-americana e indo para as ações, indo para os países emergentes. Então, vivemos atualmente um cenário bem otimista”, avalia. Assim, há uma certa cautela do mercado, que pode se estender a depender de qual for essa retaliação que o governo de Donald Trump pode trazer.
“Se for com alta ainda maior das tarifas aqui no Brasil, o mercado vai digerir mal a notícia, sem dúvidas. O dólar experimenta uma queda acumulada bem acentuada – de 14% no ano – e, com qualquer estopim, podemos ter uma correção forte no nosso mercado”, complementa.
Santana ressalta que a visão de queda de juros pelo Federal Reserve, na quarta-feira (17), tem se destacado para a alta do Ibovespa, apesar de haver, paralelamente, várias incertezas no radar. Mas, a depender de quais forem as tarifas de Donald Trump e as possíveis novas sanções, o freio na Bolsa pode ser maior. “O mercado não olhou para o julgamento do Bolsonaro pensando no ponto de vista político, mas sim nas preocupações por conta do incômodo que está causando em Donald Trump. Então, os investidores estarão muito atentos a isso”, avalia.
Monica Araújo, economista-chefe da InvestSmart XP, ressalta três pontos a serem monitorados: possíveis novas sanções do governo americano, a atividade no Congresso Nacional e as eleições gerais de 2026.
As sanções americanas podem incluir a aplicação da Lei Magnitsky a outros membros do Judiciário brasileiro e seus familiares, além de possíveis ampliações para outros grupos do poder. Quanto às tarifas, a especialista avalia que o Brasil já enfrenta a maior alíquota, de 50%, sobre produtos exportados para os EUA, o que a princípio limitaria o impacto de aumentos adicionais. Porém, como ressaltado pela Moody’s, a redução na lista de isenções a tarifas pode representar uma ameaça.
“No Congresso, a condenação pode causar paralisações que afetem projetos importantes, como a reforma tributária e do Imposto de Renda. Já para as eleições de 2026, a condenação pode acelerar negociações na direita, afastar candidaturas extremistas e favorecer forças mais centristas, o que pode ser positivo para o mercado, avalia.
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