Após uma reação relativamente tranquila do mercado brasileiro na véspera às tarifas apresentadas por Donald Trump, presidente dos EUA, no fim da tarde de quarta-feira (4), os ativos domésticos sentiram a pressão nesta sexta, com Ibovespa em queda superior a 2% e dólar subindo além de 2%.
Às 11h (horário de Brasília), o índice caía 2,75%, a 127.584 pontos, enquanto o dólar saltava 2,77%, na casa dos R$ 5,78.
Os ativos domésticos sucumbiram à aversão ao risco global após a China retaliar tarifas comerciais anunciadas na véspera pelos Estados Unidos, amplificando a guerra comercial desencadeada por Donald Trump e aprofundando temores de desaceleração da economia global.
Na véspera, houve uma certa “comemoração” uma vez que a tarifa aplicada no Brasil, de 10%, foi relativamente mais baixa. Porém, apontou a Ágora Investimentos já nos primeiros momentos, a tarifa menor não deveria ser comemorada, uma vez que a forte taxação contra a China –importante parceiro comercial -e a piora nas perspectivas em relação à atividade econômica global reforça a visão de que não existem vencedores nessa história.
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Eis que chegou a sexta-feira e os principais mercados acionários estenderam as perdas recentes, mesmo depois da eliminação de US$ 2,5 trilhões em valor de mercado em Wall Street ontem, diante dos receios de que as tarifas de Trump não só enfraqueçam a maior economia do mundo, como ameaçam o chamado “excepcionalismo americano” e a atividade global. A ideia ganhou força com a retaliação da China e potencialmente de outros ativos.
Os contratos futuros do petróleo também aprofundaram as perdas e chegaram a ter queda de 8% nesta sexta, enquanto os preços futuros do minério de ferro caíram na madrugada em Singapura – vale observar que o mercado chinês esteve fechado em função de feriado local.
A Ágora destacou que, se por um lado os ativos domésticos tinham ficado, na média, ilesos ao ambiente externo ontem, a continuidade das perdas na sexta sugeria que esses ajustes iriam atingir o nosso mercado hoje também.
“Com relação à postura do Brasil diante do novo ambiente de comércio com a maior economia do mundo, o vice-presidente Geraldo Alckmin destacou que o Governo está buscando negociar e alertou sobre possíveis desvios nas pautas de importação e exportação, enfatizando que o acordo Mercosul-União Europeia pode acelerar nesse cenário”, avalia o banco.
As taxas de juros registravam queda nesta sessão, mas nem elas impulsionavam as ações de companhias que se beneficiaram de um cenário de mais cortes, como varejistas e construtoras, que registravam forte baixa na sessão seguindo o movimento de aversão a risco do mercado.
Tal volatilidade do mercado entre ontem e hoje como reação à guerra comercial evidencia os dois lados da moeda com os anúncios de Trump, com as próximas sessões sendo importantes para entender melhor o que deve prevalecer.
Conforme destacou a equipe de estratégia da XP em relatório, as tarifas sobre o Brasil menos severas em comparação com o restante do mundo seriam um ponto positivo. Para os estrategistas, isso poderia posicionar o país como menos exposto ao risco tarifário, favorecendo a continuidade da rotação de fluxos de capital para fora dos EUA.
Além disso, poderá haver um foco maior da China em investimentos estratégicos em infraestrutura no Brasil e na América Latina. A China ampliou, desde o ano 2000, significativamente seu investimento estrangeiro direto na região, com um CAGR (taxa de crescimento anual composta) de 16,3% em 20 anos, somando US$ 73,3 bilhões em investimentos em infraestrutura no Brasil entre 2007 e 2023, distribuídos em 264 projetos, segundo o Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC).
Por outro lado, o possível fortalecimento das relações estratégicas entre Brasil e China pode gerar barreiras comerciais. Além disso, uma guerra comercial prolongada pode levar a uma desaceleração mais aguda nas economias dos EUA e global.
Isso, apontam os estrategistas, representa uma ameaça para os ativos de risco globais, incluindo por meio da volatilidade, menor apetite por risco por parte dos investidores e preços mais baixos das commodities, especialmente se a economia dos EUA entrar em recessão. Isso é um resultado negativo para os ativos de risco em geral, incluindo o Brasil, o que se observa nesta sessão.
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