“Juros subirão mais nos EUA”: temor afeta mercados no exterior, derruba Bolsa brasileira e faz dólar saltar

 

Ata do Federal Open Market Commitee (Fomc) na véspera, dados de emprego privado de junho medidos pelo ADP nesta quinta-feira (6) e expectativa pelo relatório de emprego (payroll) na próxima sexta-feira (7).

Esse é o combo que tem levado a uma forte queda dos principais ativos de risco na sessão desta quinta. O mercado brasileiro não escapa desse movimento que ofusca parcialmente o noticiário sobre a reforma tributária, com o Ibovespa em queda de 1,85%, a 117.342 pontos, e o dólar registrando ganhos de 1,34%, a R$ 4,915 na compra e na venda, às 12h50 (horário de Brasília). No mesmo horário, em Wall Street, Dow Jones caía 1,38%, S&P500 tinha baixa de 1,19% e o Nasdaq perdia 1,32%.

A ata do Fomc da última reunião de julho, divulgada ontem, já tinha impactado outros mercados acionários mais cedo, com queda das bolsas asiáticas e europeias pela manhã.

No encontro do mês passado, os membros do Fed confirmaram as expectativas dos investidores e mantiveram os juros americanos na faixa entre 5% e 5,25% ao ano, mas a grande expectativa ficou para os próximos passos da autoridade monetária.

Embora quase todas as autoridades do Fed tenham concordado com a manutenção da taxa de juros dos EUA ​​no mês passado, a ata mostrou que a grande maioria apontava por mais apertos pela frente.

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A decisão de manter os juros foi bastante debatida, que funcionou muito mais como uma pausa para permitir que os agentes econômicos se ajustem. “Ou seja, não foi o fim de uma corrida de longa distância, apenas uma pausa para respirar”, destaca a Levante Corp.

De acordo com o documento do Fomc, não é possível esperar uma queda substancial dos preços. “Os participantes [da reunião] viram poucas evidências até o momento de uma melhoria substancial nas restrições de oferta, e alguns deles julgaram que os efeitos econômicos dessas restrições provavelmente persistiriam por mais tempo do que haviam previsto anteriormente”, apontou a ata.

Se esse já era o cenário, os dados do mercado de trabalho apontado pelo ADP na manhã desta quinta reforçaram a visão de juros mais altos serão necessários.

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O setor privado norte-americano abriu 497 mil vagas de emprego no mês passado, mostrou o Relatório Nacional de Emprego do instituto. Economistas consultados pela Reuters previam abertura de 228 mil postos no setor privado.

Com isso, as apostas de mais aperto monetário pelo Fed foram reforçadas.

.”O Fed espera ver uma deterioração modesta no mercado de trabalho”, disse Randy Frederick, diretor-gerente da Charles Schwab. “Mas como o número da ADP foi quase o dobro do esperado, isso em geral implica que há potencial para mais aumentos de juros daqui para frente.”

“A força do mercado de trabalho dos EUA é quase inacreditável e isso deve afastar ainda mais qualquer conceito de uma possível recessão nos EUA”, disse à Bloomberg Scott Ladner, diretor de investimentos da Horizon Investments. “Mas também deve afastar do mercado qualquer esperança de um corte nas taxas de juros durante 2023.”

Isso se somou às considerações da ata da véspera de que há pressões salariais persistentes, bem como dificuldades em contratar e reter trabalhadores.

“Não por acaso, os investidores revisaram suas expectativas. Já não é mais uma questão de se os juros americanos vão voltar a subir. Eles vão, com certeza. E há poucas questões de quando, pois a alta deve ser retomada já na reunião deste mês. A única dúvida, agora, é quanto as taxas serão elevadas. Nas primeiras horas após a divulgação da ata, o consenso era de pelo menos mais meio ponto percentual até o fim do ano, mandando os Fed Funds para a faixa entre 5,50% e 5,75% ao ano. A questão de vários trilhões de dólares é se vai parar por aí”, apontou a Levante Corp.

Já na tarde desta quinta, operadores do mercado monetário passaram a ver uma chance de quase 95% de alta de 0,25 ponto percentual na próxima reunião do Fed, em 26 de julho, contra 90,5% mais cedo, de acordo com a ferramenta Fedwatch da CME.

Somando-se ainda ao ADP e ata do Fomc, o setor de serviços dos Estados Unidos cresceu mais rápido do que o esperado em junho com o aumento de novos pedidos. O Instituto de Gestão de Fornecimento (ISM) disse nesta quinta-feira que seu PMI não manufatureiro aumentou para 53,9 no mês passado, de 50,3 em maio. Uma leitura acima de 50 indica crescimento no setor de serviços, que responde por mais de dois terços da economia. Economistas consultados pela Reuters previam alta a 51,0.

Um ponto positivo, por sua vez, foi que uma medida dos preços pagos pelas empresas por insumos caiu para uma mínima de mais de três anos, sugerindo que a inflação de serviços continuará a esfriar.

Nesse cenário, os investidores estarão com todos os olhos voltados na próxima sexta para o payroll: a expectativa do consenso Refinitiv é de criação de 225 mil vagas no mês de junho, enquanto a atenção também se voltará para dados de salários (importante componente para entender os possíveis impactos para a inflação).

No Brasil, atenção para o noticiário político: a Câmara iniciou ontem  discussão da reforma tributária em plenário, etapa anterior ao processo de votação. Após intensas negociações com governadores e partidos e apesar das crescentes resistências que apareceram de última hora, a expectativa é de que a votação ocorra no final do dia de hoje, a partir das 18h, segundo a Agência Câmara Notícias.

Nesta manhã, o coordenador do grupo de trabalho da reforma tributária, deputado Reginaldo Lopes (PT-MG), afirmou que ela será votada em primeiro e segundo turno na Câmara até sexta-feira.

(com Reuters)

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