SÃO PAULO (Reuters) – O dólar fechou esta sexta-feira com a alta diária mais forte em mais de um mês, em meio ao fortalecimento global da moeda por realização de lucros, mas nada que aqui no Brasil impedisse a divisa de registrar a maior queda para abril desde 2016, com alívio no plano político-fiscal doméstico e também nos temores de inflação nos Estados Unidos.
O real teve em abril o segundo melhor desempenho entre as principais moedas, depois de passar boa parte do ano liderando as perdas.
O dólar subiu 1,81% nesta sexta, para 5,4315 reais, maior valorização diária desde o último dia 24 de março (+2,20%). Houve ampla oscilação neste pregão: a cotação variou de 5,3363 reais (+0,03%) a 5,45 reais (+2,16%). No exterior, o índice do dólar saltava 0,75%, a caminho do maior ganho desde fevereiro.
Na semana, o dólar no Brasil caiu 1,19%, aprofundando as perdas em abril para 3,53%, na primeira queda mensal em 2021.
A desvalorização foi a mais forte desde novembro do ano passado (-6,82%) e, considerando apenas abril, a mais acentuada desde 2016 (-4,34%). Nos últimos quatro anos o dólar havia ganhado força nos meses de abril.
Com as perdas do mês, o dólar reduziu a alta no ano para 4,62%. Com isso, o real agora divide com o sol peruano o posto de quinto pior desempenho em 2021, uma melhora de posição, já que durante boa parte do ano a moeda brasileira ficou na lanterna.
Perspectivas
“Continuando a consolidação sobre as reformas, a tendência do dólar é de mais queda”, disse Fabrizio Velloni, economista-chefe da Frente Corretora.
A discussão sobre reformas havia ficado de lado nos últimos tempos em meio ao recrudescimento da crise sanitária e a debates sobre mais despesas para controlar a pandemia, os quais levaram no começo de março à aprovação de uma PEC Emergencial que causou no mercado um mal-estar posteriormente agravado pelo impasse do Orçamento.
Mas a solução da crise orçamentária alcançada em abril voltou a abrir espaço para queda do dólar –desde a máxima de 29 de março (5,7681 reais), o dólar acumulou baixa de 5,84%.
“O governo mudou a postura com o Congresso, a forma de negociação, entendeu a necessidade de costurar as reformas. Por ora não vejo motivos para esse novo modus operandi mudar”, acrescentou Velloni.
A chance de continuidade da trégua na taxa de câmbio em maio é amparada ainda pela expectativa de um pano de fundo global mais tranquilo para mercados emergentes, com a trégua na pressão na renda fixa norte-americana, o que ajudou os rendimentos dos títulos do Tesouro dos EUA (Treasuries) a deixar as máximas em 14 meses alcançadas em março.
Na teoria, quanto mais altas as taxas dos Treasuries, mais apelo ganha o dólar, já que a maior demanda pelo papel se traduz em mais fluxos denominados na moeda norte-americana.
O Morgan Stanley acredita que o provérbio “sell in May and go away” (venda em maio e saia do mercado, em tradução livre) deve ser menos pronunciado nos mercados de câmbio e juros de países emergentes neste ano, depois de uma fraca performance desses ativos no primeiro quadrimestre do ano.
O banco espera alguma estabilização de curto prazo no real, após a aprovação do Orçamento 2021 amenizar “ruído fiscal” e conforme o Banco Central deve continuar a subir os juros.
E o Rabobank projeta que o dólar ficará em 5,45 reais ao fim de maio, o que aponta estabilidade em relação ao fechamento desta sexta. Em dezembro, a estimativa é que a moeda ficará mais barata, valendo 5,35 reais, com alta das commodities e menor temor sobre reflação global.
Em nota, os estrategistas Mauricio Une e Gabriel Santos destacam expectativa de melhora nos ingressos de recursos ao país, com aumento das estimativas para exportações neste ano, o que ajudará o Brasil a registrar superávit em conta corrente de 2,0 bilhões de dólares, segundo cálculos do banco que incluem ainda aumento de 70% (20,1 bilhões de dólares) nos investimentos diretos no país (IDP), para 54,3 bilhões de dólares.
“Isso deve em parte levar a uma apreciação do real até o fim do ano”, disseram os estrategistas.
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