O dólar vai cair, o gringo vai voltar e o Lula vai “Lular” (e não “Dilmar”): uma visão diferente sobre o câmbio

Caros(as) leitores(as),

A minha família até hoje não sabe ao certo o que eu faço da vida, mas por alto sabem que eu “manjo dos investimentos”. Dito isso, sempre que nos sentamos à mesa, eles não perdoam e disparam aquela famosa pergunta: “e o dólar hein?”.

O câmbio com certeza é um dos mercados mais presente na vida de todos os brasileiros. Muita gente sonha em visitar aquele rato falante de Orlando ou sofre com a importação de inflação – já que muitos produtos que consumimos no nosso dia a dia possuem preços internacionais (como o petróleo, por exemplo).

A grande verdade é que, do ponto de vista de investimentos, são poucos aqueles que conseguem ganhar dinheiro operando o dólar. Normalmente, o mercado de câmbio é um detrator em boa parte das carteiras de grandes gestores.

Isso acontece pois os modelos usados para responder à pergunta “para onde vai o dólar?”, por mais afinados que sejam, normalmente sofrem com detalhes específicos desse mercado ou fatores conjunturais esporádicos de curto prazo. Tudo isso para dizer que existem três previsões que você pode sempre ficar ressabiado: tempo, itinerário de aplicativos de GPS e câmbio.

Porém, eu não vim aqui ficar secando minhas lagrimas de um membro do mercado que justifica os motivos por tanta gente tão inteligente errando constantemente o preço do dólar contra o real. Quero trazer uma provocação diferente, algo que te faça pensar sobre esse tema.

O grande diferencial da minha coluna é que eu vivo entre os maiores e mais respeitados investidores do País. Eles me contam tudo sobre a cozinha do que estão fazendo em suas carteiras bilionárias, confiam em mim para dividir visões.

No texto do hoje, trago uma reflexão sobre o dólar de um gestor que é um grande vencedor deste mercado e que, no passado, foi tesoureiro de um grande banco estrangeiro no Brasil. Para manter a confiança intacta, não citarei nomes pois o tema é sensível e ele preferiu desta forma (não quero romper elos que podem gerar frutos para nós nesta coluna).

Lula vai “Lular” e não “Dilmar”

Desde o início do novo governo, o mercado discute como será a condução do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Existia uma expectativa de ele dar continuidade na proposta do ex-presidente Michel Temer ou do ex-ministro Paulo Guedes, do ponto de vista econômico.

O sonho do “Sr. Mercado” era ver nomes como Henrique Meirelles ou Pérsio Arida no ministério da fazenda. Bom, essa vontade se tornou frustração, não foi esse o caminho que foi seguido.

Na sequência, ajustando as expectativas, os investidores passaram a acreditar que o presidente Lula iria “Dilmar”, um termo para dizer que o formato de condução seria muito similar ao proposto pela ex-presidente Dilma Rousseff. Para boa parte dos membros do mercado, essa visão permanece viva.

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O gestor vencedor nesse mercado – com quem conversei – discorda deste cenário. Para ele, o “governo Lula 3” não será igual ao modelo Temer, mas está longe dos moldes da gestão Dilma.

Um “Lula 1” é o mais provável, diz ele. Não seria o ideal para o País, mas suficiente para evitar que o Brasil caminhe para a chamada “quebra”.

Por que ele pensa isso? Segundo ele:

No seu primeiro mandato, Lula tinha um petista moderado na fazenda, assim como é hoje com o ministro Fernando Haddad. Debaixo do ex-ministro Antonio Palocci, tínhamos pessoas como Marcos Lisboa e Joaquim Levy, uma equipe pouco conhecida pelo mercado naquele momento.

Com Haddad, há excelentes nomes – que como na época de Palocci, também são pouco conhecidos. Durante o governo Dilma, víamos pessoas como o ex-ministro Guido Mantega e Arno Augustin, que remavam todos para o mesmo lado.

Para o gestor anônimo, o atual cenário é bem diferente. Simone Tebet, ministra do planejamento e orçamento, por exemplo, montou um excelente time.

Enfim, ele citou nome por nome para mostrar que, de forma geral, a equipe do governo hoje é bem melhor. Ou seja, se o Lula tivesse intenções de “Dilmar”, essas não seriam as pessoas escolhidas para a construção de sua equipe.

Num cenário de um governo de esquerda e distante de um quadro de falência do País, vamos viver com juros mais elevados (como ocorreu nos mandatos anteriores de Lula). Nesse formato de política monetária, o real deveria se valorizar, como também ocorreu nas duas primeiras gestões do atual presidente.

O “gringo” deve voltar ao Brasil, não buscando investimentos de longo prazo em crescimento, mas sim beber dessa fonte doce de juros mais elevados do que no mundo desenvolvido (o famoso “carry trade”).

Tudo isso pode ser impulsionado por sermos grandes exportadores de commodities, que estão valorizadas nesse momento, e com os nossos pares emergentes “fora do jogo” – como é o caso de Rússia em guerra, por exemplo.

Os investidores estrangeiros sempre foram clientes fiéis desse “carry no câmbio”, explorando esse diferencial de juros mais elevados no relativo. Dito isso, o dólar possui muito mais motivo para cair de preço do que subir, e desde o início do ano, esse gestor está vendido no dólar contra o real.

Para fechar, o clássico momento “bula de remédio” das minhas análises: esse gestor provavelmente não vai me avisar que mudou de ideia – e eles costumam ser bem ativos, principalmente nesses mercados mais voláteis. Trouxe essa visão aqui pois achei ela destoante do que a média do mercado está pensando, se você não concorda, é ainda melhor para testar as suas convicções.

A pauta política permeia as teses macroeconômicas do mercado, não seja torcedor, ele a utilizou apenas como fundamento para montar a sua posição. Não deixe os vieses políticos, independentemente do lado, poluírem a sua mente.

Essa pode ser uma resposta curiosa para uma mesa familiar que te questione sobre o dólar. Eu continuo preferindo responder “não faço a menor ideia”.

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