O que explica alta do dólar e má performance do real em 2024?

O dólar registra leve alta nesta terça-feira (11) em relação ao real, renovando a cotação máxima da divisa norte-americana frente à brasileira em 2024, indo a R$ 5,36. Na véspera, o dólar já havia alcançado o maior nível do ano (R$ 5,35) e patamar mais elevado desde janeiro de 2023.

Fora isso, nesse mesmo período, a divisa brasileira ainda tem uma das piores performances mundiais na comparação com outros emergentes, ficando atrás apenas do peso argentino.

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Com juros altos, dólar se valoriza

Em primeiro lugar, para explicar todo esse movimento, especialistas reforçam que o fortalecimento do dólar — que se dá mundialmente — ocorre pelo fato de investidores estarem agora esperando que os juros nos Estados Unidos fiquem altos por mais tempo. 

No começo do ano, após uma série de dados macroeconômicos norte-americanos fracos no fim de 2023, havia a perspectiva de que a inflação nos EUA cederia e que o Federal Reserve (Fed, na sigla em inglês) poderia cortar os juros já na reunião de junho, realizando de três a quatro cortes em 2024.

Agora, a visão predominante é que haverá, no máximo, duas baixas e isso a partir de setembro. 

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“A política monetária dos EUA tem exercido papel significativo no câmbio. As taxas de juros altas por lá atraem recursos para o país, ajudando a valorizar o dólar. E os recursos saindo do Brasil para alocar em dólar nos EUA, fazem com que a nossa moeda desvalorize também”, explica Felipe Pontes, diretor de gestão de patrimônio da Avantgarde Asset Management.

O DXY, um índice que mostra a força do dólar frente a outras moedas americanas, ilustra bem o peso que a perspectiva de um Fed mais duro nos Estados Unidos tem.

De cerca de 101,3 pontos no primeiro dia de janeiro, agora ele está em 105,42. Sendo que investidores, por agora, estão apreensivos esperando o comunicado do Fomc (Comitê Federal de Mercado Aberto, na sigla em inglês) de amanhã.

Desvalorização das moedas frente ao dólar

 

SímboloPaísYTD (%)1M (%)3M (%)USDARSArgentina-10.393-1.999-6.030USDBRLBrasil-9.082-3.477-6.726USDTRYTurquia-8.759-0.683-1.033USDTHBTailândia-6.819-0.400-3.642USDKRWCoreia do Sul-6.316-1.148-4.934USDPHPFilipinas-5.647-1.448-5.659USDHUFHungria-5.639-1.788-3.231USDTWDTaiwan-5.574-2.544-2.986USDIDRIndonésia-5.475-1.289-4.303USDCLPChile-4.5390,094,7

Fonte: Bloomberg. YTD (year to date): Acumulado do ano, até as 11h30 de 11/06

“Os EUA tiveram uma inflação muito alta no primeiro trimestre. Com base nisso, o mercado jogou o corte de juros mais para frente. No começo do ano, a visão mais pessimista era de que o corte sairia em julho. Hoje essa seria uma perspectiva otimista. Os Estados Unidos ainda estão num processo de resiliência econômica e isso não está permitindo o corte”, contextualiza José Raymundo de Faria Júnior, da Wagner Investimentos.

Fatores internos impulsionam dólar

Mas fora isso, há também fatores internos pesando sobre o dólar, que explicam o fato de o real estar com uma performance ruim mesmo entre os emergentes (países que usualmente sofrem mais com a visão de juros mais altos nos Estados Unidos, que cria aversão ao risco). 

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Em um primeiro ponto, Faria Jr menciona que, atualmente, a inflação brasileira não está indo “tão bem”. Hoje, por exemplo, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) trouxe que o IPCA de maio acelerou para 0,46%, ficando acima do consenso do mercado, que estava em 0,42%, e frente a uma alta de 0,38% em abril. Já ontem, o relatório Focus foi na mesma linha, mudando as projeções com uma tendência altista

A alta da inflação impacta no juro real, que é o diferencial daquilo pago pelos títulos e contratos de renda fixa brasileiros e a variação dos preços. Os títulos então se tornam menos interessantes, ainda mais em um contexto no qual os juros dos EUA estão em alta. 

“Temos um maior gasto público e também o emprego em alta. Como consequência mais PIB e mais PIB traz maior inflação”, debate o especialista da Wagner Investimentos. Com mais pessoas trabalhando e maior a demanda por produtos, consequentemente, há uma alta dos preços. 

Gastos públicos

Por fim, especialistas mencionam que os gastos públicos geram outra variável que pesa sobre brasileira em relação à moeda americana. Ao mesmo tempo em que os títulos públicos estão com rendimentos menos interessantes, com juro real menor e menos ativos frente à renda fixa americana, investidores vêm enxergando um maior risco fiscal. 

Fatores como a mudança da meta fiscal, as batalhas do executivo com o legislativo para compor a receita pública (como no caso MP das Compensações) e a  mudança na presidência da Petrobras (PETR4), com a perspectiva de que os dividendos minguem, levantam o temor de que a União pode ter dificuldades em cumprir os seus compromissos financeiros. Maiores riscos, usualmente, fazem o mercado pedir maiores prêmios, em uma espécie de compensação. 

Banco Central

Ademais, há ainda a visão de que o Banco Central, com a saída do presidente Roberto Campos Neto no final do ano, possa adotar uma política menos ortodoxa, “baixando os juros na canetada”.

Como mencionado, no entanto, os títulos brasileiros vêm perdendo a atratividade, seja por causa dos juros americanos ou pela inflação mais alta no Brasil. Há, portanto, “pressões de todos os lados”. 

“A cotação da moeda americana reflete um delicado equilíbrio entre riscos e oportunidades. Enquanto a economia americana exibe sinais de robustez, os mercados globais permanecem em alerta. A decisão e o comunicado do Federal Reserve na próxima semana poderá definir o tom dos mercados”, sublinha Diego Costa, head de câmbio para o norte e nordeste da B&T Câmbio. 

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