Um ano de recuperação para os bancos. Essa é a visão da maioria dos analistas sobre os setores que foram campeões nos balanços corporativos das três temporadas de 2023 que foram reveladas no ano (os resultados do 4º trimestre sairão entre fevereiro e março de 2024). As companhias que se destacaram se beneficiaram de juros mais altos e conseguiram lidar com inadimplência melhor que as apresentadas por seus pares.
Para os especialistas consultados pelo InfoMoney, o crescimento de carteiras de crédito, realizado após a pandemia com força (em 2022) e de forma mais modesta em 2023, foi parte do motivo do avanço do setor financeiro.
“Os bancos adotaram um apetite de risco mais cauteloso em resposta ao aumento da inadimplência (que teve pico em julho). Além disso, se beneficiaram de melhores spreads, por conta de Selic média maior ao longo do ano, beneficiando a rentabilidade do setor”, considerou Gilberto Nagai, superintendente de Renda Variável da SulAmérica Investimentos.
Educação
Outro destaque ficou com o setor de educação, que também apresentou boa performance no terceiro trimestre, mantendo a tendência do ano.
Hugo Baeta, analista de renda variável da AF Invest, explica que companhias têm apresentado bom resultado operacional, tanto com o crescimento do presencial quanto com a competição mais racional do EAD (ensino a distância), que pressionava o ticket médio das companhias.
“Além disso, elas têm conseguido desalavancar, diminuindo assim um pouco o risco de endividamento alto que algumas delas vinham tendo”, afirmou.
Construção
Sobre o setor de construção civil, Nagai entende que passou por ajustes nos últimos anos, acompanhando o aperto monetário e a inflação em alta.
” O ano de 2023 foi o início dessa reversão, a inflação arrefecendo e a expectativa do início do ciclo de corte de juros foram os principais motivos para alta do setor no ano”, afirmou.
O superintendente destaca que o segmento de baixa renda foi beneficiado com mudanças propostas pelo governo para o programa Minha Casa Minha Vida. Já o segmento de média e alta renda apresentaram mais lançamentos, buscando foco em ativos de luxo e venda de estoque pronto.
Balanços: destaques negativos
Em relação aos destaques negativos apresentados em 2023, Larissa Quaresma, analista da Empiricus Research, considera que “o arrefecimento das commodities e a queda do dólar acabou pesando nos resultados das empresas relacionadas, que, apesar de ainda estarem gerando muito caixa, acabaram entregando lucros mais modestos em relação ao ano passado”.
Para o quarto trimestre, as expectativas para o varejo são mais elevadas, por se tratar de um período tradicionalmente mais forte para o setor.
“Esperamos bons números da Arezzo &Co [ARZZ3], Grupo SBF [SBGF3](dono da Centauro e da Nike no Brasil) e da Vivara”, expõe Larissa.
“Minha projeção para o quarto trimestre de 2023 é de melhora em todos os setores”, diz Gustavo Biserra, analista da Nova Futura. A visão do especialista se pauta nos balanços apresentados no terceiro trimestre e que até mesmo o setor do varejo poderá trazer surpresas positivas.
Nagai destaca que as companhias do setor realizaram mudança operacional, fixando sua estratégia em eficiência operacional e ganho de margem, em detrimento de crescimento com pouca rentabilidade, como observado anteriormente. Assim, é possível manter visão otimista para 2024, ainda que não no primeiro semestre, de acordo com o superintendente da SulAmérica.
O que esperar para 2024?
“A expectativa de queda dos juros contribui para um clima de otimismo no mercado, indicando que os investidores estão antecipando uma possível melhora nas condições econômicas nos próximos anos. Esse otimismo em relação à política monetária e às taxas de juros influencia positivamente as expectativas dos investidores, refletindo-se no desempenho das empresas e na confiança do mercado”, considera Filipe Villegas, estrategista chefe da Genial, em relatório pós temporada de balanços do terceiro trimestre de 2023.
Para Larissa, ainda que existam muitas ações do setor de varejo consideradas “baratas”, é necessário selecionar bem porque o consumo segue tímido no país. A analista destaca que a preferência da casa segue por empresas de alta qualidade, que apresentem boas perspectivas de crescimento e baixa alavancagem. A casa segue “cética” com empresas muito endividadas.
Para Felipe Moura, sócio e analista da Finacap Investimentos, o ano que vem será marcado por bons resultados de empresas de commodities, em função de balanços sólidos, pouco endividamento e poucos grandes projetos de investimentos.
“Os grandes destaques, tanto para o quarto trimestre quanto para o ano que vem, serão as empresas mais sensíveis às juros, principalmente as empresas mais alavancadas, que tem mais dívida no balanço, porque essas empresas naturalmente começarão a ter resultado financeiro melhor. O lucro que vai voltar a aparecer, as margens vão melhorar, principalmente margens de lucro, e o peso da dívida nos resultados vai começar a diminuir”, sustenta Moura.
Nagai considera que as perspectivas para 2024 dependerão, principalmente, da capacidade do Federal Reserve de fazer com que o PIB americano desacelere, impactando nas políticas monetárias.
“[Se acontecer] ações de empresas endividadas podem ser o destaque positivo. Se não tiver nenhuma desaceleração, as empresas de commodities podem ser as grandes vencedoras, mas se tiver um hard landing (recessão forte), os ativos de risco vão sofrer bastante, inclusive as empresas alavancadas”, entende.
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