PEC da transição, falas de Lula, IPCA: o que derruba o Ibovespa e faz o dólar disparar, apesar do salto das bolsas nos EUA

O noticiário macroeconômico doméstico ofusca à intensa sessão de temporada de resultados, os indicadores internacionais e leva a um movimento de forte aversão ao risco do mercado, fazendo com que o Ibovespa registrasse queda de até 3,42%, a 109.696 pontos, na mínima do dia, enquanto o dólar dispara mais de 3%, chegando a R$ 5,36 nas máximas do dia. Já às 13h55 (horário de Brasília), o Ibovespa caía 2,45%, a 110.797 pontos, enquanto o dólar subia 2,95%, a R$ 5,334 na compra e R$ 5,335 na venda no mesmo horário.

O início do pregão já se apontava como de aversão ao risco para o mercado brasileiro, com o Ibovespa futuro abrindo em forte queda e o dólar avançando em seus primeiros negócios, por volta das 9h.

Notícias que ganharam força entre a véspera e a manhã de hoje de que há proposta em avaliação pela equipe do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de retirar, de forma permanente, os desembolsos com transferência de renda do teto de gastos – a regra que limita o crescimento das despesas públicas à inflação – geraram impacto negativo. A medida é uma das opções na mesa para viabilizar um Auxílio Brasil (que deve voltar a se chamar Bolsa Família) de R$ 600 no ano que vem.

Há uma grande preocupação no mercado sobre isso, conforme destacado em análise do Broadcast, porque a alternativa vem ganhando força na equipe de transição – que antes priorizava apenas uma “licença” temporária para gastar além do teto, por meio da chamada PEC da Transição. A avaliação é de que a saída possa deteriorar mais a trajetória da dívida pública.

Conforme destacou Tiago Sbardelotto, economista da XP, a medida embute o risco adicional de que o programa seja expandido sem qualquer balizamento a partir de 2024, o que levaria a uma deterioração adicional do cenário. Há também risco do lado da receita se houver cumprimento da promessa de isenção do IRPF a partir de R$ 5 mil mensais.

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“Avaliamos que o tamanho da expansão fiscal combinada uma regra pouco restritiva de elevação de despesas deve impactar juros e câmbio e tornar o trabalho do Banco Central em controlar a inflação mais difícil, com manutenção da taxa de juros em patamares mais altos por um tempo maior. Dessa forma, será fundamental aguardar os próximos passos, especialmente as indicações de como o novo governo financiará a elevação de despesas”, apontou o economista em relatório.

Isso se somou, durante o dia, aos dados do IPCA de outubro acima do esperado, com uma alta de 0,59% na comparação mensal, enquanto o consenso Refinitiv projetava avanço de 0,48%, também pressionando a curva de juros.

Para Luca Mercadante economista da Rio Bravo, os dados do IPCA voltaram a representar um sinal ruim para a dinâmica de inflação. “A volta do IPCA para terreno positivo já era esperada, entretanto, tivemos uma elevação dos preços acima das expectativas e com um qualitativo ruim. Núcleos voltaram a acelerar, serviços se mantiveram pressionados, bem como bens industriais”, comenta.

O Ibovespa até chegou a diminuir as perdas no início do pregão, por volta das 10h30, após dados de inflação dos EUA abaixo do esperado o que, inclusive, faz o Nasdaq disparar 6%, o DowJones subir 3% e o S&P500 saltar 4,5%.

O índice de preços ao consumidor dos EUA subiu 0,4% em outubro ante setembro , enquanto a projeção Refinitiv era de avanço de 0,6%, uma indicação bem-vinda de que os baldes de água fria que o Federal Reserve vem despejando na economia ao apertar a política monetária agressivamente estão sendo sentidos. “Os aumentos (do Federal Reserve) nas taxas de juros estão começando a afetar a economia e reduzir a inflação à medida que os consumidores se tornam mais frugais”, diz Peter Cardillo, economista-chefe de mercado da Spartan Capital Securities. “Esta é uma notícia bem-vinda”, acrescentou ele, sugerindo que “há possibilidade de o Fed aumentar os juros em 50 pontos-base em dezembro e depois fazer uma pausa”.

A melhora da Bolsa brasileira, contudo, foi temporária. Os ativos de renda variável atingiram a sua mínima do dia na esteira do discurso do presidente eleito Lula no fim da manhã, em que ele reforçou que o novo governo terá mais gastos.

O presidente eleito também falou sobre as estatais. “Eu quero dizer a vocês que as empresas públicas brasileiras serão respeitadas. A Petrobras PETR4 não vai ser fatiada. Eu quero dizer que o Banco do Brasil BBAS3 não vai ser privatizado. A Caixa Econômica, o BNDES, o BNB e o Basa voltarão a ser bancos de investimento, inclusive para pequenos e médios empreendedores”, disse.

Em outro momento do discurso, Lula criticou dividendos recém-anunciados pela Petrobras e que tem sido alvo de judicialização. “Só nesse período de governo [Bolsonaro] já vão mais de US$ 150 bilhões pagos em dividendos para os acionistas da Petrobras, e nada para investimento. E essa semana vocês viram que inventaram a distribuição de mais US$ 50 bilhões de um possível lucro futuro”, afirmou.

“O mercado está estressado e deve continuar por mais que tenha fluxo estrangeiro”, avaliou o analista Bruno Komura, analista da Ouro Preto, à Reuters. 

“A equipe de transição de Lula caminha para solucionar o impasse do orçamento com a PEC de Transição aparentemente, o que adiciona mais gastos sem apontar fontes claras de financiamento. Um mau sinal para um começo de governo”, afirmou a Guide Investimentos em relatório antes da abertura da Bolsa.

Gustavo Sung, economista-chefe da Suno, destacou ainda que o mercado tinha aceitado de forma até melhor do que o esperado o resultado das eleições e, na sequência, houve a notícia de que Geraldo Alckmin iria encabeçar a equipe de transição, o que impulsionou os ativos de risco nos dias pós segundo turno. Hoje, porém, a melhora foi devolvida, com o Ibovespa chegando a patamares próximos do período antes do primeiro turno, no fim de setembro.

“A ideia de tirar o auxílio Brasil fora do teto, o que abriria recursos para as promessas de campanha, não está sendo bem vista. A partir do momento que você coloca esse programa social, que é importante, fora do teto, abre brechas. Primeiro, ele ficará ilimitado. Os recursos destinados a ele poderão crescer sem âncora. Além disso, há uma diminuição da previsibilidade em relação a dívida pública, que é um grande problema do Brasil. Tudo isso tem gerado um ruído”, aponta Sung.

Acilio Marinello , coordenador do MBA em Digital Banking da Trevisan Escola de Negócios, reforça o cenário, apontando que “a responsabilidade fiscal do país é um alicerce muito importante para manter toda a economia em segurança. Com menos déficit do governo, sobra mais dinheiro para o investir em infraestrutura e nas prioridades do país”.

“A pobreza ainda é um grande problema no Brasil, mas o respeito ao teto de gastos e à responsabilidade fiscal do país é o que traz previsibilidade e tranquilidade ao mercado, principalmente aos investidores estrangeiros, que procuram preferencialmente os países com uma política econômica previsível e responsável”, avalia Marinello.

Ubirajara Silva, gestor da Galapagos Capital, ressalta que “o cheque em branco está sendo cobrado pelo mercado”.  Ele complementa: “Finalmente o mercado acordou e viu que o cheque em branco dado ao governo está errado. Isso mesmo com o exterior  performando muito bem, após dados da inflação nos Estados Unidos melhores do que o esperado. Há muitas incertezas sobre o novo governo.”, avalia.

(com Reuters e Estadão Conteúdo)

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