SÃO PAULO – O dólar subiu forte ontem (22), chegando a bater R$ 5,53 antes do Banco Central entrar com leilão de US$ 800 milhões em swap, US$ 1,6 bilhão em linha e mais US$ 1 bilhão em swaps extras para acalmar os investidores.
Segundo Sidnei Nehme, diretor executivo da NGO, a divisa dos Estados Unidos hoje está pelo menos 20% acima de onde deveria estar em relação ao real graças à combinação de riscos políticos, fiscais e sanitários no Brasil.
“O preço ‘líquido’ do dólar expurgado o prêmio dos inúmeros riscos, acredita-se, deveria estar entre R$ 4,50 a R$ 5,00, e certamente seria menos danoso à expansão inflacionária resultante do aumento dos preços das commodities internacionalmente. Contudo, nossos próprios problemas acabam aumentando o prêmio, de modo que precisam ser tomadas ações pontuais, firmes e rápidas para haver alguma recuperação neste governo”, defende.
Nehme acredita que além de apostar nos swaps, o BC também será obrigado a ajustar sua política monetária, pois um juro mais elevado atenuaria um dos vetores de pressão no preço do dólar, que é a diferença entre o rendimento pago pelos títulos públicos atrelados à Selic (2% ao ano) e a inflação, que bateu 4,56% em 12 meses de acordo com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de janeiro.
Todavia, ele lembra que ainda restarão incertezas que dependem da ação política.
Os riscos políticos aumentaram muito na última semana depois que o presidente Jair Bolsonaro trocou o comando da Petrobras (PETR3; PETR4) por conta do reajuste nos preços dos combustíveis.
À Reuters, Jason Vieira, economista da Infinity Asset, disse que o Planalto agiu como se a Petrobras fosse mais um ente governamental, e não uma empresa estatal com inúmeros acionistas fora do setor público. “Tudo isso vem a reboque da demora da aprovação de um novo pacote de auxílio emergencial e atraso com a vacinação em nível nacional (…)”, ressaltou.
Alessandra Ribeiro, diretora da área de macroeconomia e análise setorial da Tendências Consultoria, conta que a atitude de Bolsonaro incluiu no cenário um fator de incerteza que não estava presente nos modelos de projeções dos economistas.
“Com isso, materializam-se riscos não só de saída do [ministro da Economia] Paulo Guedes, como de redução na relevância de toda a equipe econômica do governo”, avalia.
Diante dessa alteração no balanço de riscos, a tendência de um BC mais ativo deve continuar, mas analistas ressaltam que isso não significa que a autoridade monetária vai “defender patamar” do câmbio nem que a tendência de queda do dólar no médio prazo tenha sido revertida.
Bruno Lavieri, economista da 4E Consultoria, afirma que o BC está cumprindo sua função como esperado ao oferecer saída para o investidor que quiser deixar o País e comprar dólares. “A oferta de swap tem a ver com expectativa, ela é um calmante para quem pensa em sair, mas teme que o câmbio vá a R$ 6,00 no futuro, por exemplo”, explica.
De acordo com Lavieri, esse temor de apreciação do dólar por conta do aumento das incertezas políticas poderia gerar uma corrida por moeda dos EUA que, pelo brusco avanço da demanda, levaria o câmbio a níveis muito maiores, então a autoridade monetária entra no mercado futuro para oferecer ao investidor a possibilidade de “travar” o valor do dólar no valor atual, contendo na raiz esse ciclo.
O economista avalia que apesar da sinalização da política ser preocupante, a tendência do dólar até o fim do ano é de queda, uma vez que a pandemia do coronavírus deve ser gradualmente contida pela vacinação das pessoas globalmente.
“Não esperamos a retomada de uma direção mais liberal do governo nem a aprovação de reformas para ajuste fiscal. Na verdade, não esperamos grandes pioras nem melhoras, mas a amenização da pandemia levará o real a se apreciar ante o dólar”, argumenta.
Lavieri diz que a projeção de câmbio da 4E Consultoria segue em R$ 4,70 para o dólar à vista no fim de 2021 ainda sem planos para revisão apesar dos acontecimentos políticos recentes.
Já Alessandra Ribeiro, da Tendências, admitiu que a projeção de dólar a R$ 4,85 para o final do ano tem viés de de alta. “O cenário que prevíamos de forte apreciação do real no segundo semestre se tornou bem mais difícil de se concretizar”, conclui.
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