Por que o dólar segue acima dos R$ 5,60 mesmo com a volta do fluxo estrangeiro?

Mesmo sem feriado ou data comemorativa, o próximo dia 18 é o mais aguardado de setembro – pelo menos para mercado financeiro. É quando acontece a Super Quarta, que reúne decisões de juros no Brasil e Estados Unidos. Também é um dos fatores que explica a fraqueza do real ante o dólar, mesmo com o investimento estrangeiro voltando para o Brasil.

O InfoMoney conversou com especialistas em câmbio para explicar o que mantém o dólar acima de R$ 5,60. Eles compartilharam suas perspectivas para o curto prazo, que (spoiler) não são animadoras. 

Por que o dólar segue alto?

O investidor que não acompanha o câmbio de perto pode estranhar o movimento recente do dólar mesmo diante da expectativa de aumento de Selic e queda nos juros dos Estados Unidos, fatores que contribuem para a apreciação do real. No entanto, não é a moeda americana que está forte, mas o real que segue fraco. 

“De abril até agora, o DXY (índice que mede o desempenho do dólar) recuou 3,1%; no mesmo período, o real desvalorizou 11,4%, o que deixa evidente que a dinâmica do câmbio hoje se deve mais a questões peculiares da economia brasileira”, explica André Valério, economista sênior do Inter. 

Outro ponto que pode causar dúvidas é a volta do capital estrangeiro ao Brasil. Investidores vêm acompanhando, nos últimos dois meses, fluxo positivo desse dinheiro na Bolsa, o que mostra atratividade dos investimentos por aqui e ajuda na força do real. Porém, analistas lembram que o movimento recente faz parte da recuperação de um forte fluxo de saques que fez as saídas chegarem ao pico do ano de R$ 43,3 bilhões em 18 de junho. 

Para explicar a fraqueza do real, Valério cita temas recorrentes da economia brasileira: “contínua deterioração da política fiscal” e imprevisibilidade da política monetária – o Banco Central vem dando sinais mistos sobre seus próximos passos, com o presidente Roberto Campos Neto mais “dovish” (mais brando sobre o ritmo de altas da Selic) e Gabriel Galípolo, indicado para comandar a autarquia a partir de 2025, mais “hawkish” (com discurso mais duro de preocupação com inflação e avanço dos juros). 

Além disso, o BC vem realizando intervenções no câmbio via leilões de swap cambial, que “foram recepcionados com estranheza pelo mercado, especialmente o que foi realizado na última sexta-feira”. 

No cenário internacional, o mercado tem certeza de que o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) vai começar um ciclo de corte de juros, mas se divide entre corte inicial de 0,25 e 0,50 ponto percentual. 

O que esperar do câmbio?

Se você tem uma viagem internacional e está esperando o real ganhar força para comprar dólar, saiba que isto não deve acontecer tão cedo. Pelo menos é o que projeta Rodrigo Cohen, co-fundador da Escola de Investimentos: “acho que o dólar se mantém nos R$ 5,60, não há motivos para queda”. A estimativa olha para o curto prazo, em cerca de um mês. 

O especialista diz que o mercado ainda não tem certeza sobre o que vai acontecer na próxima Super Quarta, o que dificulta o fluxo de investimentos para países emergentes, considerados mais arriscados. Até as decisões de juros nos Estados Unidos e Brasil, o mercado deve operar em compasso de espera, sem promover grandes alterações no câmbio. 

Por isso, “acompanhar indicadores econômicos, como inflação e relatórios de empregos, para prever onde o dólar pode estar no início de outubro” neste período de incertezas se torna ainda mais importante, lembra Ana Carolina Weinsauer, sócia da The Hill Capital. 

Para os analistas, ainda há muitos cenários prováveis, especialmente combinando as políticas monetárias americana e brasileira. A magnitude da alta lá fora e corte aqui, além das sinalizações que os BCs darão, devem determinar o humor do mercado nos próximos meses. Por enquanto, resta ao mercado esperar.

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