A conjunção de fatores como uma esperada queda do dólar em relação a outras moedas mundiais nos próximos anos somada a fatores internos, como as recentes reformas econômicas feitas no Brasil e um prometido controle nos gastos públicos com a aprovação do novo arcabouço de regras fiscais, pode colocar o País no rumo de um crescimento econômico mais forte do que anunciam as projeções. A previsão é do economista-chefe da Verde Asset Management, Daniel Leichsenring.
Segundo ele, se essa soma de fatores ocorrer como o previsto, mesmo com eventuais contrarreformas pelo atual governo – que seriam amenizada por conta dos avanços institucionais conquistados nos últimos anos -, o Brasil pode entrar num fase bastante positiva. “A gente vai ter anos bons de crescimento adiante, por dois, três ou quatro anos. E não vai ser não só um crescimento mais forte como vamos ter mais surpresas”.
Leichsenring destacou em palestra patrocinada pelo Adbank que isso deve levar a uma melhora em vários indicadores. “Se o PIB sobe mais, a dinâmica de dívida fica melhor, o risco fiscal é menor, diminui o prêmio de risco fiscal, o juro de equilíbrio é mais baixo e se consegue ter mais solvência das contas públicas”, listou.
A projeção de perda de valor do dólar, uma das premissas do quadro mais positivo traçado pelos economista, está baseada no acompanhamento do contexto histórico.
Ele demonstrou, por meio de gráficos, que o Brasil tem mantido um padrão de ciclos de reformas que colocam o País no rumo de anos de crescimento à frente quando o cenário internacional apresenta uma melhora.
No entanto, na sequência normalmente vem um período de maior interferência estatal, o que gera outra onda de reformas e o ciclo acaba se repetindo. Isso aconteceu com as reformas entre 1964 e 1967, que culminaram com o período do “Milagre Econômico” entre 1968 e 1973.
Mas a crise do petróleo subsequente ameaçou desacelerar a economia e fez o governo militar tentar colocar o Brasil numa marcha forçada, com políticas monetárias e fiscais equivocadas, como taxas de juros subsidiadas em bancos públicos para empresas próximas do governo, taxas de câmbio múltiplas, protecionismo e privilégios a empresas e setores específicos. Isso tudo gerou a chamada “década perdida”, que durou, na verdade, de 1981 a 1994.
Após o Plano Real, o ciclo reiniciou, com mais reformas econômicas, um período de baixo crescimento, e uma melhora substancial quando o cenário internacional evoluiu. Daí, vieram respostas exageradas à crise e uma reprise de intervenções na economia, antes de um novo período de reformas iniciadas na gestão de Michel Temer.
Observando essas experiências do passado, o Brasil passou a crescer mais forte quando o ciclo internacional ficou mais favorável, com a queda do dólar contra as demais moedas mundiais, como iene japonês, euro, libra e reminbi chinês.
Um exemplo se deu na primeira gestão de Lula na presidência da República. “O crescimento acelerou de maneira muito dramática no Brasil. A ponto de em alguns anos a gente crescer 3 pontos percentuais a mais do que se estimava no começo do ano, e por vários anos. O cenário internacional melhorou e o Brasil pode aproveitar dos efeitos das reformas que havia feito, a despeito das contrarreformas que foram implementadas.”, lembrou Leichsenring.
Aliás, essa surpresa com o indicador também é uma característica possível de acompanhar ao longo do tempo, outra vez associada ao câmbio e que pode ser acompanhada pela variação do chamado “broad dolar index”, um indicador do Fed que é ponderado pelo comércio.
O economista criou um indicador que mede a “surpresa” com o PIB prevista para dois trimestres à frente e viu essa correlação com o dólar. “Ao logo do tempo, quando o dólar começou a cair de 2002 a 2011, o PIB do Brasil surpreendeu em média 1% ao ano nos dois trimestres adiante. Teve ano que, dois trimestre a frente, a gente cresceu 3% a mais do que as pessoas imaginavam”, destacou
Já quando o dólar “virou” e passou a valorizar, o Brasil passou 10 anos com “surpresa” negativa de PIB. Na gestão Dilma, por exemplo, ficou 5 pontos percentuais abaixo do que as pessoas imaginavam dois trimestre antes.
Arcabouço
Sobre o desempenho fiscal do Brasil nos anos à frente, Leichsenring disse na palestra que considera o arcabouço fiscal, no geral ruim, mas que poderia ser pior, dado o histórico das administrações petistas.
Do lado positivo, ele afirmou que as novas regras reduzem o risco de um crescimento exagerado de gastos todos os anos, que não consegue ser financiado, reduzindo assim o risco de um problema de espiral de dívida já no ano que vem.
“Da maneira que está, pode gastar mais, desde que consiga arrecadação para isso. Se inverteu a lógica. É preciso taxar mais para poder gastar. Antes era assim: vou gastar e depois eu vejo se eu consigo taxar. É uma lógica diferente”, explicou.
O segundo ponto destacado pelo economista-chefe da Verde Asset é que, do ponto de vista do crescimento do gasto, existe um teto de 2,5% ao ano. É muito melhor do que eu imaginava que eles fossem fazer. Porque, no passado, sempre gastou muito mais do que isso. No governo Lula, se pegar de 2004 a 2010, na média foi algo perto de 8% acima da inflação. O teto hoje é muito mais restritivo”, comoarpu.
Ele fez algumas projeções mostrando que se espera uma dinâmica muito melhor de resultado primário para os próximos três anos, associada a uma trajetória de dívida melhor. No curto prazo, as projeções de déficit primário feitas pela Verde são de -0,6% em 2023 e de -0,3% em 2024, melhores até que as do governo e do consenso do mercado.
“Nos próximos dois anos, tenho razoável convicção de que as contas vai ter uma evolução melhor do que as pessoas pensavam. O motivo é que vai descomprimir prêmio. Então a dívida vai evoluir melhor do que se espera hoje. Do ponto de vista da solvência, o arcabouço não resolve, mas ele limita o riscos de longo prazo”, disse.
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