Vale comprar dólar agora esperando mais altas? Especialistas veem oportunidades

Faltando pouco mais de uma semana para as eleições Estados Unidos e para a reunião de política monetária do Federal Reserve (Fed, o banco central do país), o investidor brasileiro se vê diante de um novo período de volatilidade no dólar, e de uma questão recorrente: afinal, é um bom momento para se expor à moeda americana?

Especialistas costumam dizer que o investimento em moeda estrangeira não deve depender do câmbio, e se sim estar atrelado a uma estratégia de longo prazo. Mas é importante saber que, neste momento, gestores de fundos e de patrimônio estão enxergando motivos para apreciação do câmbio.

Um deles se apresenta diante da possibilidade de vitória do candidato republicano Donald Trump nos EUA, que poderia fazer o dólar se fortalecer ainda mais, tanto frente a moedas fortes e de países emergentes, por causa de sua agenda conservadora, mais voltada para o mercado interno.

Além disso, os especialistas afirmam que a expectativa de cortes menores de juros nos EUA, que tomou conta do mercado após a divulgação de dados sobre criação de emprego no país e inflação, tende a reduzir a atratividade de outras moedas.

Dólar contra moedas estrangeiras

Falando sobre o dólar global, André Diniz, economista para internacional da Kinea Investimentos, disse que a casa está comparada no dólar contra uma cesta de moedas europeias e asiáticas, com destaque para o yuan.

“Esperamos suporte em virtude do persistente descolamento para cima da economia americana em relação a seus pares, que mantém o Fed em alerta para não cortar juros muito rápido. Além disso, caso Trump seja eleito e implemente uma agenda de tarifas comerciais, a tendência é de apreciação do dólar”.

O DXY, indicador que mede o desempenho da moeda americana frente a seis outras divisas, avançou 3,73% no acumulado de 30 dias. No Brasil, o dólar comercial é cotado a R$ 5,69 na manhã desta quinta-feira (24).

Dólar contra real

O multi family office One Wealth Management aposta no dólar tanto frente à valorização de moedas de países exportadores de commodities como ao real. Além dos juros e das eleições, um terceiro ponto que joga a favor da queda da moeda brasileira é a questão fiscal no Brasil, que “preocupa”, falou Pedro Cutolo, co-CIO da empresa.

Posicionamento semelhante tem a gestora AMW Asset. Segundo o gestor de multimercados Eduardo Gribler, a casa está comprada em dólar contra o real, além de manter uma exposição estrutural à moeda americana por meio de um fundo que investe em ações globais.

“O dólar tende a compensar nas maiores correções que a gente tem no nosso mercado interno, que para o investidor brasileiro, no final das contas, acaba sendo um produto bem interessante para a formação de carteira”, falou.

Ativos dolarizados

O diretor de gestão da Arton Advisors, José Romeu Robazzi, disse que diante dos cenários nos Estados Unidos e o no Brasil, bem como dos conflitos no Oriente Médio e na Ucrânia, a casa tem posição média comprada em dólar já há alguns meses.

“Tomamos posição em ativos dolarizados ou denominados em dólar ou investimos em fundos macro que negociam ativamente o dólar. A gestora também ofereceu ativos do setor imobiliário norte-maricano para seus clientes.

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30% em dólar, mas não agora

Eric Hatisuka, CIO do Mirabaud, disse que a casa recomenda manter cerca de 30% da carteira em moedas estrangeiras, como dólar, euro ou offshore, visando proteção e diversificação, mas não incentiva a compra de dólar no momento, considerando o valor atual exagerado.

Ele acredita que o mercado está exagerado no pessimismo atual, impulsionado pela alta de juros americanos e pela expectativa de desaceleração suave da economia do país. Com a possível queda dos juros dos títulos americanos e a estabilização fiscal no Brasil (algo que acredita), Hatsuka prevê que o dólar deve perder força nos próximos meses, caindo a R$ 5,40, mesma faixa do último relatório Focus do Banco Central.

Para se proteger da desvalorização do real no momento, a gestora sugere investir em títulos atrelados à inflação, como as NTN-B, que oferecem juros reais elevados. “O pass-through (elasticidade da taxa de câmbio) da desvalorização acaba contaminando o IPCA, fazendo com que você tenha também um ganho interessante do ponto de vista da correção de inflação. Acho que a maneira mais segura de aproveitar a desvalorização cambial, porque comprar dólar nesse nível (atual) é bastante arriscado”

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