SÃO PAULO (Reuters) – O dólar voltou a fechar em alta e superou a casa de 5,25 reais nesta quinta-feira, numa máxima em cinco semanas, com o mercado repercutindo os ganhos da moeda no exterior após dados mais fortes de inflação nos EUA e novas incertezas fiscais depois do adiamento da votação de reforma do IR para a próxima semana.
O dólar à vista subiu 0,66%, a 5,2542 reais, maior nível desde 8 de julho (5,2549 reais). A cotação variou de 5,2097 reais (-0,20%) a 5,2584 reais (+0,74%).
No exterior, o índice da divisa norte-americana contra uma cesta de rivais ganhava 0,1%, mantendo-se perto de máximas em mais de quatro meses.
Aqui, o dólar começou o dia em torno da estabilidade, mas logo ganhou tração após dados mostrarem que em julho os preços ao produtor dos EUA tiveram a maior alta anual em mais de uma década. Os números jogaram combustível numa cada vez mais aquecida discussão sobre corte de estímulos nos Estados Unidos –o que na prática poderia reduzir a liquidez para mercados emergentes como o Brasil.
Mas a cena local continuou com forte peso sobre a formação dos preços dos ativos. Num sinal de que incertezas fiscais seguem pautando o mercado, além do dólar os juros futuros fecharam a sessão regular em alta –expressiva, de até 18 pontos-base, nos vértices longos, mais suscetíveis a dúvidas sobre a trajetória da dívida pública.
A Câmara dos Deputados adiou para a próxima terça-feira a votação do projeto que altera regras do Imposto de Renda, parte do conjunto de medidas que integram a reforma tributária em tramitação no Congresso.
O risco é de que novas versões do texto representem perda ainda maior de arrecadação pelo governo.
“Se o texto voltar na semana que vem com mais concessões, vai gerar na prática mais pressão fiscal, e aí o mercado vai olhar para as perspectivas de trajetória de dívida/PIB”, disse Victor Scalet, estrategista macro da XP.
“Ao longo do tempo a gente foi vendo o texto cada vez mais alterado, com impacto fiscal cada vez maior do que o texto original. E aí mais para a frente fica o receio de mais dificuldade fiscal”, acrescentou.
O olhar torto do mercado para a reforma do IR se soma a outros fatores de risco fiscal, como a ideia de aumento do Bolsa Família à custa de uma proposta de parcelamento dos valores dos precatórios –o que para muitos economistas nada mais é do que uma forma de pedalada fiscal, num contexto de um governo com popularidade em queda e a um ano da eleição presidencial.
Olhando até dezembro, porém, analistas afirmam que o real ainda tem um caminho de apreciação, apoiado em boa parte pelos juros mais altos.
“Um BC ‘hawkish’ (duro com a inflação) pode dissipar temporariamente as preocupações com o real, enquanto ventos contrários mais estruturais se instalam em segundo plano, incluindo a situação fiscal do país e a eleição presidencial do próximo ano”, disseram profissionais do Société Générale em nota.
Nesta quinta, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, reafirmou a postura mais dura do BC em relação ao aumento de preços na economia ao pontuar que a autoridade monetária fará o que for preciso para ancorar as expectativas de inflação, já que essa é sua missão fundamental.
Scalet, da XP, disse que a equipe da casa se reuniu nesta quinta e decidiu manter a previsão de dólar a 4,90 reais ao fim do ano. “Acho que até lá vai haver um refresco nessas preocupações de agora; não é algo para daqui a uma, duas semanas, mas deverá acontecer, e os fluxos de dólar seguem fortes”, afirmou.
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