No primeiro semestre de 2024, o Ibovespa caiu 7,7% em reais e 19,5% em dólares – entre os mercados com pior desempenho globalmente. Em janeiro, o Brasil foi visto como um dos principais beneficiários da tendência de desinflação e do ciclo de flexibilização do Federal Reserve, com o mercado precificando 7 cortes neste ano mas, à medida que esse cenário foi re-precificado (com projeções de menos cortes), o Brasil sofreu, ressalta a equipe de estratégia da XP Investimentos, formada por Fernando Ferreira, Jennie Li, Júlia Aquino e Felipe Veiga.
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Além disso, os riscos domésticos em relação às políticas fiscal e monetária pesaram sobre os preços dos ativos do Brasil.
Confira abaixo o resumo do primeiro semestre para a Bolsa brasileira em um gráfico:
Fonte: Bloomberg/XP research; dados de 30 de junho de 2024
Ao olhar para as perspectivas para o segundo semestre, os estrategistas da XP ressaltam que, em reuniões recentes com investidores, a maioria concorda que o nível de preços parece bastante atrativo para as ações brasileiras. Além disso, as estimativas de lucros foram revisadas para cima recentemente para as empresas do Ibovespa.
“A pergunta-chave é sobre quais são os principais catalisadores”, apontam os estrategistas, em questionamento também feito pelo JPMorgan em meados de junho. A equipe da XP acredita em uma combinação de (i) um ciclo de flexibilização do Federal Reserve iniciando, (ii) melhor fluxo de notícias sobre as políticas fiscais e monetárias domésticas podendo servir de gatilhos para o mercado doméstico.
Em meio à aproximação de um ciclo de corte de juros nos EUA, a XP ainda ressalta que dados históricos indicam que o Ibovespa é um grande beneficiário do ciclo de flexibilização das taxas de juros dos EUA, superando seus pares globais antes e depois que o Fed inicia um ciclo de flexibilização. Nos últimos 6 ciclos de flexibilização dos EUA, as ações brasileiras subiram 30%, em média, um ano após o primeiro corte de taxa dos EUA, superando os mercados emergentes e desenvolvidos.
A XP manteve o valor justo do Ibovespa em 145 mil para o ano de 2024, um potencial de valorização de 17% em relação ao fechamento do primeiro semestre. O valor justo é calculado como uma média de quatro metodologias: 1) um modelo DCF (fluxo de caixa descontado), no qual assume um WACC (média ponderada de custo de capital) de 12,9%, 2) um modelo de múltiplo de preço sobre lucro (P/L), que assume um múltiplo de 9,0 vezes, e mesmo assim abaixo da média histórica de 11 vezes, 3) um EV/Ebitda (valor da empresa sobre lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) de 5,3 vezes, também abaixo da média histórica de 6,5 vezes, e 4) um modelo bottom-up (olhando para as empresas primeiro) usando o preço-alvo estimado dos analistas da XP para cada constituinte do Ibovespa.
Em sua carteira top 10 para julho, a XP adicionou Suzano (SUZB3) e removeu Gerdau (GGBR4). Confira abaixo a carteira da XP para julho:
Carteira de julho da XP (Fonte: XP)
De olho no câmbio e juros
Em relatório de estratégia, o Itaú BBA também destacou o avanço do dólar, que apenas na última semana saltou de R$ 5,45 para R$ 5,58 (+2,4%) e avançou 15% no primeiro semestre.
“A taxa de câmbio vem respondendo à incerteza fiscal, que ganhou mais um capítulo nesta última semana. A divulgação do resultado de maio (que subiu 10,46% ante ano anterior, maior para o mês desde 2000) indicou que até aqui neste ano o esforço arrecadatório do governo tem tido frutos, porém tem sido insuficiente para equilibrar as contas públicas”, avalia o BBA. No acumulado de janeiro até maio deste ano, a receita líquida do governo subiu 9,0% em termos reais frente ao mesmo período do ano anterior. Contudo, a despesa total subiu 13%, puxada pelo crescimento nos benefícios previdenciários.
Para o banco, o risco à frente é que a ausência ou insuficiência de respostas à questão fiscal siga dando impulso à deterioração da taxa de câmbio, o que reforça a perspectiva embutida na curva de juros de alta na taxa Selic (atualmente em 10,5%) ainda este ano, acarretando mais uma rodada de desvalorização por aqui. Nos juros prefixados, movimento de alta nas taxas deslocou todos os vértices para cima, em uma magnitude média de 0,36 ponto percentual (p.p.), levando o trecho longo da curva a níveis próximos de 12,5% ao ano (a.a.), patamar observado pela última vez em abril de 2023. Na curva de taxas reais (IPCA+), movimento uniforme nas taxas elevou o nível da curva em cerca de 0,17 p.p., atingindo nível médio de 6,5% a.a. ao final da sexta-feira. O cenário embutido nas curvas sugere taxa Selic média de 10,75% a.a. para este segundo semestre de 2024, de 11,75% a.a. no primeiro semestre de 2025 e de 12,25% a.a. na segunda metade do próximo ano
“Nesta linha, passadas as festividades juninas, é esperado que a movimentação legislativa volte a se intensificar nesta semana em Brasília e a pauta fiscal siga como destaque para explicar a evolução dos preços dos ativos domésticos. No exterior, a agenda de divulgação de dados nos Estados Unidos é destaque e passa desde a ata da última reunião de política monetária, como pelos índices de gerentes de compra da indústria e do setor de serviços, finalizando na sexta-feira com os dados do mercado de trabalho (payroll)”, avalia o banco, olhando para o curto prazo.
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