Após dólar subir em 2021, o que esperar para o câmbio no próximo ano?

Após uma alta de cerca de 9% em 2021, saindo da casa dos R$ 5,20 no começo do ano para R$ 5,66 no fechamento da última quinta-feira (23) em meio aos riscos fiscais e sinais de aperto monetário em países desenvolvidos, diversos analistas esperam que o dólar termine praticamente no mesmo patamar desse último ano. 

Porém, as incertezas fiscais, o fato de 2022 ser ano de eleição e o cenário externo podem levar a uma forte volatilidade para o câmbio.

Na avaliação da equipe econômica do Bradesco, as incertezas sobre a política econômica a partir de 2023, a volatilidade típica de anos eleitorais e o ajuste de juros nos EUA podem manter as condições financeiras em campo bastante restritivo, levando a riscos de um crescimento menor no próximo ano. Assim, para os economistas, o câmbio deve se manter depreciado ao longo de 2022, refletindo esse cenário.

“Os fundamentos das contas externas permanecem em bons níveis, com déficit de 1,7% do PIB no ano (-0,3% em 2022), amplamente financiados pelos investimentos estrangeiros diretos, mas esses resultados não têm tido influência baixista na taxa de câmbio”, apontam.

Eles ressaltam que mesmo a alta recente de juros não tem sido suficiente para uma reversão ou diminuição dos fluxos de saída de investimentos, que continuam registrando saída de brasileiros, maior manutenção de recursos de exportação fora do país e diminuição da exposição total de estrangeiros a investimentos de portfólio.

Para os economistas, a alta de juros do Fed deve manter a moeda pressionada, mesmo em um ambiente de maior diferença de juros a favor do Brasil. Ainda assim, as expectativas quanto à política econômica que prevalecerá a partir de 2023 podem ter influência relevante na cotação da moeda ao longo do ano. O Bradesco projeta o dólar ao fim de 2022 a R$ 5,70, mas o dólar médio do ano a um patamar menor, de R$ 5,55.

Os economistas da LCA revisaram para cima a curva projetada para a cotação do dólar no mercado doméstico, citando um ambiente externo ainda mais desafiador para emergentes, sobretudo em função das sinalizações de que o ciclo de aperto monetário nos EUA começará antes do previsto. 

“Combinado às incertezas políticas e fiscais internas, já relevantes e que tendem a ser amplificadas em ano de eleições presidenciais, esse ambiente externo menos favorável deverá manter o câmbio doméstico volátil ao longo de todo o ano de 2022”, diz o relatório da LCA.

A casa vê agora cotação média para o dólar próxima de R$ 5,65 – a expectativa anterior era de que o dólar médio ficasse em torno de R$ 5,50. 

O Morgan Stanley dividiu as expectativas por trimestre, projetando um dólar a R$ 5,80 ao final dos três primeiros meses do ano, R$ 5,90 ao final de junho, R$ 6,10 no terceiro trimestre e encerrando o ano a R$ 5,70, mesma projeção do Bradesco e também da XP.

Os economistas do banco americano apontam que a inflação elevada e o enfraquecimento do regime fiscal vão obrigar o BC a puxar a taxa básica de juros acima de neutro durante todo o ano de 2022. Se, a princípio, os juros mais altos poderiam levar a conter a moeda, por outro lado, inibem o crescimento. O Morgan espera um crescimento de 0,5% do PIB no ano que vem, em meio a uma desinflação muito gradual, com economia de volta à tendência de crescimento em 2023, com alta de 1,8%.

O Santander também espera um dólar ao final de 2022 a R$ 5,70, destacando que “as incertezas no âmbito fiscal seguirão limitando o espaço para apreciação cambial, ainda mais diante de um início mais precoce do processo de normalização de política monetária nos EUA, o que traz pressão adicional sobre a taxa de câmbio. Em meio a um debate político acalorado, mantivemos as projeções”, avaliaram os economistas do banco, em relatório de dezembro. 

O Itaú, por sua vez, espera um dólar alto, mas em queda em 2022. Para os economistas do banco, haverá uma desvalorização adicional em 2023. 

Para 2022, as incertezas domésticas (especialmente as relacionadas à evolução das contas públicas nos próximos anos), somadas ao cenário global, que tem se mostrado desafiador para ativos de risco (com aumento de pressões inflacionárias globais e antecipação da elevação dos juros nos EUA), seguirão pressionando a moeda, mesmo num contexto de elevação da taxa básica de juros.

Já para o ano seguinte (2023), por sua vez, os economistas do banco projetam taxa de câmbio a R$ 5,75. “As incertezas relacionadas ao regime fiscal de 2024 em diante, em conjunto com a normalização de política monetária nos Estados Unidos e a redução da Selic, devem pressionar a moeda brasileira”, avaliam. 

Gustavo Arruda, chefe de pesquisa para América Latina do BNP Paribas, projeta taxa de câmbio de R$ 5,60 por dólar ao fim do ano que vem, “mas, antes de chegar lá, poderia caminhar próxima a R$ 5,80 e R$ 5,90 no momento em que a política monetária norte-americana começar a se normalizar”.

A aproximação da corrida eleitoral brasileira de 2022 provavelmente acirrada também pode prejudicar o desempenho do real. “Eleições polarizadas geram incertezas e incerteza gera prêmio”, destaca Arruda, acrescentando que isso pode significar que os ativos brasileiros continuarão aquém de patamares sugeridos pelos fundamentos econômicos.

Sobre o cenário fiscal –que foi importante responsável pela valorização do dólar ante o real neste ano– Arruda afirmou que a recente promulgação de partes da PEC dos Precatórios, que altera a legislação do teto de gastos, “mostra para todo mundo que, ao longo do tempo, a gente pode observar isso acontecendo novamente”, o que seria ruim do ponto de vista da credibilidade.

Para Fabrizio Velloni, economista-chefe da Frente Corretora de Câmbio, a pressão do dólar em 2022 vai ser muito mais política do que macroeconômica. “Em ano de eleição, o Congresso não consegue passar emendas, reformas e privatizações, que era o que o mercado esperava do atual do governo e acabou não acontecendo”, afirma.

Velloni acredita que a tendência para o dólar é de alta volatilidade ao longo do ano, e que a moeda não deve diminuir de patamar. “É como está hoje, ou pior”, diz. O câmbio, segundo ele, estará sensível às pesquisas eleitorais. “Vai depender de qual candidato despontar nessa corrida e de sua linha de raciocínio referente aos gastos públicos”, conclui Velloni.

 

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