Dólar emenda maior sequência de baixas desde 2016 com descompressão de risco

SÃO PAULO (Reuters) – O dólar sofreu nesta quinta-feira a maior queda desde o fim de março, fechando no menor patamar em dois meses, na casa de 5,45 reais, com fortes vendas de moeda decorrentes de uma combinação entre ajuste pós-feriado, fluxo positivo e desmonte de posições em meio à percepção de algum alívio do lado fiscal.

Segundo analistas, o câmbio mostrou um “catch-up” –ou seja, ajustou-se à queda do dólar contra pares na quarta-feira, dia sem negociação no mercado doméstico devido ao feriado de Tiradentes.

Esse efeito foi potencializado na parte da tarde por fluxo de exportadores, que têm mantido valor importante de suas receitas no exterior. Há no mercado expectativa de aceleração de ingressos por essa conta, com cenário de mais vendas externas –no começo de abril, o governo revisou para cima suas estimativas para a balança comercial e passou a ver superávit recorde para 2021.

O desfecho menos caótico da crise do Orçamento –com ampla expectativa de sanção do texto pelo presidente Jair Bolsonaro– abriu a porta para notícias do lado das reformas, devolvendo algum otimismo aos investidores, que voltam as atenções neste momento a relatos sobre a proposta de privatização dos Correios e ao andamento dos trâmites da reforma administrativa.

O dólar à vista caiu 1,67%, a 5,4558 reais na venda. É a maior baixa percentual diária desde 31 de março (-2,23%) e o menor nível desde 24 de fevereiro (5,4219 reais).

Com isso, a moeda engatou a sétima desvalorização, período no qual perdeu 4,72%. A série negativa é a mais longa desde as mesmas sete quedas consecutivas registradas entre 5 e 13 de dezembro de 2016.

O dólar bateu a máxima do dia –5,5611 reais, alta de 0,23%– ainda no começo da sessão, mas na sequência perdeu força e manteve queda moderada até por volta de 14h20, a partir de quando aprofundou as perdas e renovou seguidamente as mínimas intradiárias. Na reta final dos negócios, tocou 5,4453 reais (-1,86%), piso do dia.

Para Bernardo Zerbini, um dos responsáveis pela estratégia macro da AZ Quest, o câmbio está entrando numa “janela benigna” que, se estendida, pode terminar com o dólar entre 5,35 reais e 5,40 reais.

“Estamos aumentando posições cautelosamente otimistas principalmente em bolsa e câmbio”, disse. “Tínhamos uma posição um pouco menor no real, agora aumentamos. Estavam exageradas as medidas de preço (da taxa de câmbio), considerando métricas como termos de troca e outras.”

Várias instituições financeiras têm dito que o real é ou está entre as moedas mais baratas do mundo emergente, depois de depreciar mais de 20% no ano passado e cair mais 5% em 2021.

A Rio Bravo também vê espaço para mais correção para baixo no dólar, mas tem dúvidas sobre a sustentabilidade do movimento.

“Os problemas políticos e fiscais vão continuar, porque é meio que a realidade brasileira… E lá nos Estados Unidos a discussão de inflação, de aumento da curva de juros, dos juros futuros, esfriou bastante, mas é algo que pode voltar ao radar, especialmente com essas novas discussões de estímulos em diferentes frentes nos EUA”, disse Evandro Buccini, diretor de renda fixa e multimercado da Rio Bravo.

Um cenário favorável ao real, segundo o gestor, é a continuação do ciclo de normalização da Selic, mas sob certas circunstâncias.

“A gente tem que ver como vai se comportar a inflação nessa situação. Se o BC precisar elevar mais os juros por causa de uma inflação que vem com a recuperação econômica, acho que é bom para o câmbio. Além dos juros mais altos, teríamos crescimento.”

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