SÃO PAULO (Reuters) – O dólar fechou acima de 5,28 reais nesta segunda-feira, no maior patamar desde maio, pressionado pela força da moeda norte-americana no exterior e pelo recorrente clima de instabilidade político-fiscal no plano doméstico.
O dólar à vista subiu 0,67%, a 5,2812 reais, maior nível desde 26 de maio (5,3127 reais).
A cotação bateu a máxima do dia (5,298 reais, alta de 0,99%) ainda no começo do pregão, mas passou gradualmente a perder força até pouco antes das 12h ir à mínima intradiária (5,2292 reais, queda de 0,32%). Posteriormente, recuperou em ritmo modesto algum terreno, mas duas arrancadas entre 15h20 e 17h recolocaram a moeda perto dos níveis mais altos do dia.
A expectativa pela votação do texto que muda as regras do Imposto de Renda, tensões entre Poderes e renovadas pressões sobre valores para o Bolsa Família seguiram pesando sobre o sentimento doméstico. Em todas essas frentes o mercado teme que haja prejuízo aos cofres públicos e/ou travamento da agenda reformista, com riscos de ações do governo mais enviesadas para o populismo.
Em entrevista ao jornal Valor Econômico, o ministro da Economia, Paulo Guedes, voltou a defender mudanças nas regras para pagamento de precatórios, o que parte do mercado vê como uma pedalada fiscal.
Mas o ambiente externo também pesou nesta segunda.
Lá fora, o índice do dólar frente a uma cesta de moedas fortes tinha ligeira alta de 0,09%, mas mostrava ganhos mais expressivos contra divisas correlacionadas a matérias-primas, caso do real.
Peso chileno (-1,5%), rand sul-africano (-0,7%) e dólar australiano (-0,5%) estavam entre os piores desempenhos globais. Todas essas divisas vendem insumos cujo principal importador é a China, que voltou a assustar os mercados após dados mais fracos que o esperado divulgados entre o domingo e esta segunda-feira.
As commodities caíam 0,5% no fim da tarde. O declínio das matérias-primas pressiona uma medida chamada termos de troca (relação entre preços de exportações e importações). Os termos de troca vinham em forte alta no Brasil com o rali desses produtos no mercado internacional, o que contribuiu para avaliações melhores para a moeda brasileira.
Algum conservadorismo antes da divulgação na quarta-feira da ata da última reunião de política monetária do banco central dos EUA e por receios de que a crise no Afeganistão gere ondas de choques na geopolítica também ditou demanda por ativos seguros, caso do dólar.
A combinação de todos os fatores mencionados acima levou o Morgan Stanley a passar ao lado pessimista sobre o real, depois de meses com recomendação otimista ou neutra.
“Grande parte da deterioração parece advir da percepção de que uma derrapada fiscal permanece como um grande risco”, disseram estrategistas do banco em relatório.
Junto ao real os profissionais listaram o rand sul-africano, citando que a moeda tem uma das maiores correlações com os preços das commodities.
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