O que esperar para o dólar nos próximos meses

SÃO PAULO – O dólar comercial começou a sexta-feira em alta e chegou a bater os R$ 5,72 na máxima do dia, mas recuou para R$ 5,627 no final do pregão.

Diante de um cenário de instabilidade política e econômica, a pergunta de 1 milhão de dólares – ou de cerca de 5,6 milhões de reais no câmbio atual – é para onde o dólar vai?

Para responder a esta pergunta, Roberto Attuch, economista, fundador e CEO da Ohm Research, analisa o cenário econômico e prefere voltar um pouco no tempo.

“No dia em que o ex-presidente Lula (PT) ficou elegível novamente, o incentivo do presidente Bolsonaro (sem partido) passou a ser o populismo. Ele precisa dessa popularidade para se reeleger. No final do dia, Bolsonaro acredita que o mercado sempre vai preferi-lo ao Lula, mas esse nível de popularidade que ele quer ter é inconsistente com a sensação de bem-estar na economia. Não cabe no orçamento”, avalia Attuch.

De quatro meses para cá, a Bolsa brasileira caiu quase 30% em dólar. “Enquanto isso, o governo está comprando a sua popularidade”, diz. O primeiro impacto disso é um aumento do risco fiscal. “Rasgaram a fantasia, abandonaram a âncora que existia. O que vemos daqui para a frente é um estresse no câmbio mas, principalmente, nos juros longos”, diz.

Para ele, a estratégia de investimentos agora deve ser de alocações táticas, exigindo cuidado e análises periódicas.

O dólar pode subir?

Para Attuch, em uma palavra, sim. “Em um cenário mais extremo pode chegar a R$ 6 e até subir mais. Mas não deve cair abaixo de R$ 5,20, o patamar que estava há poucas semanas”, diz.

De acordo com o economista, os motivos para o dólar ficar nessa faixa são, principalmente, dois: 1) a antecipação do calendário eleitoral; e 2) a mudança no arcabouço de política fiscal.

Para ele, essa semana foi um bom exemplo de como será o ano que vem. “Estamos na espiral do populismo. Não existe mágica para ganhar popularidade no governo. É preciso gastar. O risco fiscal derruba nossas projeções de crescimento, que estressam o câmbio, alimentam a inflação e impactam os juros. Com a economia piorando, a dose de populismo precisa aumentar – e o risco fiscal aumenta”, resume. “Infelizmente, antes de melhorar, vai piorar. A confiança foi rompida!”, diz Attuch.

Ricardo Humberto Rocha, professor de finanças do Insper, tem mais dúvidas sobre o cenário – e o futuro do dólar. “Não dá para imaginar o que vai acontecer com o dólar. Tecnicamente, o dólar deveria ser o diferencial da taxa de juros entre Brasil e Estados Unidos, mas como o risco político se apresenta de maneira muito intensa, os agentes econômicos também estão mais tensionados”, afirma.

Ele resgata que em 2002, houve um cenário semelhante ao atual, em termos de disparada da moeda americana. “Alguns anos depois, o dólar voltou a recuar”, relembra. “Esta não será a última crise que vivemos, assim como não é a primeira. Mas temos algumas vantagens agora. Uma delas é o câmbio flutuante, que escancara o problema e obriga o governo a explicar o que está acontecendo”, afirma. E segue: “Outra vantagem é a renovação na economia. Mesmo com câmbio pressionado e os juros subindo, há muitas empresas fazendo movimentações como IPOs e M&As. Estamos em outro patamar e isso é bom para o país”, diz.

 

É melhor comprar dólar agora ou depois?

O economista Edmar Lisboa Bacha, que participou da equipe econômica que instituiu o Plano Real, disse uma vez que “o câmbio foi criado por Deus para humilhar os economistas”. A razão para a brincadeira reside na imprevisibilidade da moeda e na dificuldade dos economistas em responder de maneira certeira perguntas como “quanto o dólar deveria custar?”, “o dólar está barato?” ou “é melhor comprar dólar agora ou depois?”. Isso porque não existem respostas certeiras.

Por isso, mesmo em cenários mais previsíveis, a recomendação de gestores e consultores financeiros para aqueles que pretendem viajar ou vão precisar da moeda americana costuma ser: “Se você vai precisar da moeda, o momento certo para começar a comprar dólar é sempre agora ”. Essa é a opinião de Jefferson Laatus, estrategista-chefe do Grupo Laatus.

Para ele, a escalada do dólar que se apresentou na semana que passou foi amenizada com o anúncio que o ministro da Economia Paulo Guedes permaneceria no cargo e que o rompimento do teto seria temporário. “Por isso, estamos trabalhando com o cenário do dólar permanecer em torno de R$ 5,60 e a Bolsa voltar para 110 mil pontos na semana que vem”, afirma.

O panorama para 2022 é mais complicado. “Trabalhamos com a estimativa de um dólar entre R$ 5,70 a R$ 6. Pela nossa experiência com outras eleições, estamos sendo conservadores, porque o cenário pode ser ainda mais volátil”, diz.

Para se proteger dos solavancos, ele mantém, pessoalmente, 60% dos investimentos em dólar e sugere aos investidores assustados com a turbulência que busquem diversificar a carteira de maneira global e olhem para um horizonte mais longo.

 

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