Sobe no boato, cai no fato? O que explica a reação tímida do Ibovespa e do câmbio ao tão esperado acordo preliminar nos EUA

Ibovespa em leve queda, dólar voltando a superar os R$ 5. Ao contrário do que poderia esperar, a tão aguardada notícia de que a Casa Branca e o Partido Republicano chegaram a um acordo preliminar para elevar o teto da dívida dos Estados Unidos e evitar um calote histórico, provoca uma reação menos intensa do que se podia imaginar nesta segunda-feira (29).

Conforme destaca a Ágora Investimentos, pelo contrário, os índices futuros Nova York mostraram de manhã fôlego bastante limitado, enquanto as principais bolsas da Europa operam com viés de baixa neste início de semana. Além disso, cabe ressaltar que a última sexta-feira (26) foi de ânimo para os mercados, com as projeções de que já haveria um acordo sobre o teto da dívida por lá. Com isso, às 12h20 (horário de Brasília), o Ibovespa caía 0,11%, a 110.781 pontos, enquanto o dólar comercial avançava 0,41%, a R$ 5,009 na compra e na venda, na sessão desta segunda-feira (29).

É importante observar ainda que hoje é feriado de Memorial Day nos Estados Unidos, o que mantém os mercados à vista fechados por lá. A falta de liquidez global também se reflete em outros negócios, com o dólar rondando a estabilidade ante as principais moedas e os contratos futuros do petróleo em leve queda.

Em paralelo, os preços futuros do minério de ferro tiveram forte alta de 4,89% na madrugada em Dalian, cotados ao equivalente a US$ 101,59 por tonelada, mas nem assim a Vale (VALE3) registrava fortes ganhos na sessão.

“A agenda econômica mais esvaziada junto com a provável liquidez restrita dos negócios faz com que os investidores adotem uma postura mais cautelosa por aqui. Enquanto isso, por aqui, as negociações no Senado em torno do arcabouço fiscal ficam ainda no radar, embora sem novidades concretas para esta segunda-feira”, aponta a equipe de análise da corretora.

A XP aponta ainda que os investidores ficam de olho agora no prosseguimento das negociações do teto de dívida nos EUA, já que a proposta deverá ser votada pelo Congresso na próxima quarta-feira.

O Comitê de Regras da Câmara dos Estados Unidos disse que vai se reunir na tarde de terça-feira para discutir o projeto de lei, que precisa ser aprovado pelo Congresso dividido antes de 5 de junho, quando o Tesouro diz que ficará sem dinheiro para cobrir todas as suas obrigações.

Além disso, conforme destacou a Bloomberg em reportagem, com o acordo preliminar, operadores de títulos parecem prestes a deixar de se preocupar com o fato de os EUA não aumentarem seu limite de dívida para se preocuparem com o que esse aumento significa para os mercados monetários.

A preocupação é que, com um acordo provisório pendente, o Tesouro em breve reponha seu saldo de caixa vendendo mais de US$ 1 trilhão em títulos até o final do terceiro trimestre, de acordo com estimativas recentes. O estoque de dinheiro dos EUA atualmente é de US$ 39 bilhões, o menor desde 2017.

É provável que um dilúvio sugue uma quantidade significativa de liquidez dos mercados financeiros. Isso pode aumentar a pressão, já que o Federal Reserve vem elevando as taxas de juros e encolhendo seu balanço, aponta.

O foco também recai durante a semana para os próximos dados econômicos dos EUA, em “semana decisiva para saber o que o Federal Reserve vai fazer em sua próxima reunião” de política monetária.

Na sexta-feira, será divulgado um importante relatório de emprego do governo dos EUA, que é acompanhado de perto pelo banco central do país. Dados mais fortes do que o esperado podem sustentar a percepção de uma economia resiliente e reforçar apostas numa nova elevação dos juros no encontro do Fed de 13 e 14 de junho.

Os mercados futuros já precificam quase 60% de chance de o Fed elevar os custos dos empréstimos em 0,25 ponto percentual no mês que vem, com os outros cerca de 40% esperando manutenção da taxa básica.

Quanto mais altos os juros nos EUA, mais o dólar tende a se beneficiar globalmente do redirecionamento de recursos para o mercado de renda fixa norte-americano.

No Brasil, além da tramitação do arcabouço fiscal no Senado, atenção ainda para a divulgação dos dados do PIB do primeiro trimestre na próxima quinta-feira (1).

(com informações de Reuters e Bloomberg)

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