A quarta-feira (2) é de grande expectativa para o mercado brasileiro, com os olhos voltados para a decisão de juros básicos, atualmente em 13,75% ao ano, pelo Banco Central, com projeções de início do ciclo de cortes pelo Comitê de Política Monetária (Copom).
Cabe ressaltar é que esta deve ser a primeira vez em três anos que haverá um corte de juros por aqui (não havia redução na taxa básica de juros desde agosto de 2020).
Além do início do ciclo de corte de juros, os agentes de mercado mostram uma divisão na visão da intensidade da baixa da Selic, em 0,25 ponto (como esperado pelos economistas) ou 0,5 ponto (como esperado pelos operadores de mercado e gestores).
O JPMorgan acredita que a decisão será “por pouco”, acirrada, mas projeta ver um corte de 0,25 ponto percentual.
Neste sentido, acredita que um corte na Selic de 0,50 ponto poderia dar um impulso aos mercados e que, se 0,25 ponto percentual levar a uma queda dos ativos de risco, mesmo assim é uma oportunidade de compra.
“Nos próximos meses, o ritmo da flexibilização, juntamente com a magnitude total do ciclo, continuará a guiar os movimentos do mercado, desde que haja uma sensação de que há uma oportunidade de reavaliação dos ativos à frente”, avaliam os estrategistas do banco.
Além da visão de reavaliação dos ativos, até onde ela pode ir? Emy Shayo e estrategistas, que assinam o relatório, acreditam que o Ibovespa será reclassificado para cerca de sua projeção de 135 mil pontos até o fim do ano de 2023, isso exclusivamente devido à expansão de múltiplos impulsionada por taxas mais baixas.
Além disso, será preciso observar o crescimento dos lucros e/ou a compressão do risco (como o risco País).
O JP aponta que o ciclo completo mais recente de alta da Selic durou 15 meses e foi de juro de 2% para 13,75%, ou avanço de 11,75 pontos percentuais. “Agora, após um ano de pausa [na alta de juros], vemos o BC flexibilizando os juros em 3,75 pontos percentuais até meados de 2024 (1,75 ponto em 2023 e 2 pontos na primeira metade de 2024)”, avalia.
Ao observar a variação mensal da Selic e do Ibovespa desde 2005, o banco observa que uma queda de 1 ponto na taxa de juros traz um retorno de 8% para o benchmark da Bolsa, mantendo todos os fatores constantes.
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Considerando o corte de 175 pontos-base esperado até o fim do ano, o upside seria de 14%, trazendo o Ibovespa para 138 mil no final do ano, bem perto da projeção do JPMorgan de 135 mil.
Analisando os ciclos anteriores de flexibilização da taxa de juros desde 2005, a equipe de estratégia aponta que até o momento foram 5 ciclos, que resultaram em queda média da Selic de 525 pontos-base e valorização média do Ibovespa de 33%, o que levaria o benckmark da Bolsa para 162 mil pontos.
“No entanto, acreditamos que o ciclo de cortes será de 375 pontos-base, o que daria um upside de 23,5%, levando o Ibovespa para 150 mil pontos [até meados de 2024]. Mas há quem diga que a valorização pode ser limitada porque o Ibovespa acumula alta de 17% nos últimos três meses, ante média de 5% no mesmo período dos ciclos anteriores. Assim, fazendo esse desconto, a alta do Ibovespa em relação ao nível atual seria de 12%, trazendo-nos de volta ao Ibovespa em 136 mil, um pouco acima do nosso target”, avalia a equipe.
Outros fatores no radar
Além dos juros, os estrategistas também apontam que o consenso sobre avanço dos lucros pode impulsionar o mercado.
“As expectativas de consenso para os lucros do ano de 2024 estão em um aumento de 6%. É a partir daí que se deve esperar ver mais ganhos no mercado indo além dos juros”, o que pode ser um fator para atestar aos investidores “que as ações brasileiras não são uma armadilha de valor, como ouvimos tantas vezes”, pontua o banco.
Por outro lado, a composição do mercado pode afetar negativamente a composição do índice, considerando que 37% do MSCI Brasil e 35% do Ibovespa são compostos pelo setor de petróleo e gás e materiais básicos, cujas variáveis fundamentais nada têm a ver com taxas mais baixas.
“Ainda assim, é interessante notar que, em geral, os dois setores também têm alta de suas ações em tempos de flexibilização monetária”, aponta a equipe.
O outro grande setor é o financeiro, (correspondente a 27% do MSCI Brasil e 24% do Ibovespa). “Este é um setor que normalmente se sai muito bem em momentos de flexibilização. No entanto, pode sofrer com a eventual mudança nas regras de juros sobre o capital próprio, que pode ter um impacto de dois dígitos nos ganhos de todos os grandes bancos”, avalia.
Já uma área totalmente exposta à flexibilização monetária é a das small caps. “De fato, o índice SMALL11 está superando o Ibovespa em 10% desde as mínimas de março e acumula alta de quase 17% no acumulado do ano, ante 10,5% de avanço do Ibovespa. Ainda assim, do ponto de vista do fluxo, as small caps não costumam ser a porta de entrada para estrangeiros no Brasil, que tendem a vir por meio das ações do setor financeiro”, avaliam os estrategistas.
Fluxo de volta?
Por fim, sobre fluxos, veem alguns pontos a serem considerados. O fluxo global para mercados emergentes, com os estrangeiros começando a procurar diversificação, considerando o maior aumento de taxa em 20 anos e as altas de ações dos EUA em 2023 até agora. Dessa forma, deve haver um fluxo para os emergentes e, consequentemente, para o Brasil. Um outro ponto é que veem um consenso maior do mercado para exposição no país.
Por último, mas não menos importante, há o fluxo local, que está muito baixo, com as ações respondendo por menos de 10% da exposição dos ativos sob gestão totais dos fundos mútuos brasileiros. Isso também pode aumentar, mas é mais um processo do que um grande fluxo de dinheiro chegando. “Está começando com os resgates diminuindo, mas ainda há um longo caminho a percorrer”, avalia.
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