SÃO PAULO (Reuters) – O dólar fechou em queda ante o real nesta terça-feira, após três sessões de alta, com investidores repercutindo o tom duro do Banco Central na ata do Copom e um dia relativamente benigno nos mercados externos.
O dólar à vista caiu 0,96%, a 5,1957 reais na venda, desvalorização mais intensa desde 28 de julho (-1,26%).
Durante os negócios a moeda variou de 5,264 reais (+0,34%) a 5,1854 reais (-1,16%).
Na véspera, o dólar engatou a terceira sessão de ganhos ao subir para 5,246 reais, máxima em três semanas.
Nesta terça, a cotação firmou queda durante a tarde, depois de uma manhã mais pressionada e de vaivém, com o mercado sentindo a constância dos ruídos político-fiscais em meio a um desfile de blindados das Forças Armadas na Esplanada dos Ministérios exaltado pelo presidente Jair Bolsonaro, num movimento visto por parlamentares como tentativa de demonstrar força e apoio dos militares.
O desfile ocorreu no mesmo dia da votação da PEC do voto impresso na Câmara dos Deputados.
Mas com o noticiário sem maiores contratempos e o exterior mais calmo, operadores passaram a se concentrar mais nas sinalizações “hawkish” (duras com a inflação) do Copom emitidas na ata divulgada ainda pela manhã.
Falas do diretor de Política Monetária do BC, Bruno Serra, ressaltando o compromisso do Bacen com a meta de inflação e demonstrando atenção à volatilidade da taxa de câmbio corroboraram um viés mais vendedor de dólares.
“O BC está tentando entregar sua credibilidade, e ao longo da tarde isso fez preço no dólar”, disse Luca Maia, estrategista de câmbio e juros para América Latina do BNP Paribas. “O BC não desistir da meta de inflação indica juros mais altos à frente, e acredito que esse aumento do carrego do real vai fazer a moeda cair a 4,75 reais até o fim do ano”, acrescentou.
Os níveis mais elevados de juros –que encarecem o custo de se manter posições a favor da alta do dólar– devem ajudar a amenizar também a volatilidade, segundo o estrategista do BNP.
Nesta terça, uma medida da volatilidade implícita do real subiu a 17,64% ao ano, máxima desde abril. A moeda brasileira segue, com folga, como a divisa emergente relevante mais instável.
Roberto Serra, gestor sênior de câmbio da Absolute Investimentos, avaliou que por uma série de motivos, entre os quais o juro mais alto e o preço barato pelos fundamentos, a tendência do real é de apreciação, mas que variáveis à parte das tradicionais para cálculo da taxa de câmbio justa, como instabilidade fiscal e política, seguem prendendo o dólar em patamares mais altos.
“A maioria dos ‘players’ está em busca dessa posição otimista (em real), mas a volatilidade e essas crises que fabricamos não deixam”, afirmou.
Segundo o gestor, até o fim do ano pode haver alguma janela benigna para o câmbio, com os juros mais altos potencialmente estimulando emissões externas de empresas brasileiras, que assim poderiam internalizar recursos.
Além disso, o BC poderia retomar operação de troca de liquidez no câmbio de swap cambial para dólar spot, o que injetaria dinheiro “na veia” do sistema e amenizaria típica pressão de demanda de fim de ano por dólar físico.
“Por ora temos uma posição tímida a favor do real, mas o potencial de aumento dessas posições no mercado é grande”, concluiu Serra.
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